Testemunha diz que Rubens Paiva foi torturado ao som de “Apesar de Você” e “Jesus Cristo”
Matéria na Folha fala de três depoimentos que fazem parte da denúncia apresentada pelo Ministério Público Federal à Justiça sobre os últimos momentos do ex-deputado federal Rubens Paiva.
Marilene Corona Franco e Cecília Viveiros de Castro viram Paiva em uma instalação da Aeronáutica perto do aeroporto Santos Dumont, no centro do Rio, e no prédio do DOI-Codi na rua Barão de Mesquita, na Tijuca, zona norte.
Edson Medeiros estava preso no DOI-Codi quando o deputado federal foi levado para lá.
As duas mulheres foram presas no dia 19 de janeiro de 1971 ao desembarcar de um avião da Varig no aeroporto do Galeão. Voltavam do Chile, onde tinham visitado parentes exilados, e traziam cartas de outros brasileiros que haviam fugido para aquele país. O contato para a distribuição das cartas no Brasil era Rubens Paiva.
Cecília tinha ido visitar um filho, Luiz Rodolfo Viveiros de Castro, que se exilara em meados de 1970. Marilene era irmã de Jane, mulher de Luiz Rodolfo.
Em seu depoimento ao Ministério Público Federal, Marilene Corona Franco contou que o avião que as trazia parou fora da área de desembarque. Na porta, de um jipe, homens gritavam o nome de “Marilene e acompanhante”. As duas ficaram até o dia seguinte em uma sala, onde foram ameaçadas de ter que caminhar sobre uma chapa quente no chão.
Marilene contou que era possível ouvir os gritos de Paiva, apesar de seus torturadores tentarem abafar o ruído com um aparelho de rádio em alto volume. A ex-presa relatou não ter esquecido as músicas que ouviu naquele momento: “Jesus Cristo”, de Roberto Carlos, e “Apesar de Você”, de Chico Buarque.
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