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The Intercept critica “ignorância de Jô Soares sobre Black Blocs”

Do The Intercept:

Uma entrevista no Programa do Jô rendeu uma grande repercussão nas redes e em alguns veículos esta semana. De novo. Desta vez, os entrevistados eram a socióloga Esther Solano e os jornalistas Bruno Paes Manso e Willian Novaes, autores do livro Mascarados – A Verdadeira História dos Adeptos da Tática Black Bloc. Aparentemente curioso a respeito das razões que os levaram a escrever sobre “um assunto tão tenebroso”, Jô acabou se mostrandomais interessado em comprovar suas impressões a respeito do movimento e insinuando que os pesquisadores seriam apoiadores da tática. Mas teve de encarar Solano, que rebateu as declarações viciadas de Jô com uma combatividade raramente encontrada pelo apresentador.

“A ideia era tentar explicar nossos dados e levantar questões que preocupam a sociedade, porque são questões polêmicas, e gerar um debate baseado em dados. Então o clima ficou um pouco tenso porque percebemos que não conseguiríamos explicar a pesquisa e algumas coisas do senso comum iam ficar pouco esclarecidas. Fomos ao programa dispostos a um diálogo calmo, tranquilo, sobre dados, e não houve a possibilidade de gerar esse diálogo”, esclareceu a pesquisadora em entrevista ao The Intercept Brasil.

A tática passou a ser usada no Brasil durante as manifestações de junho de 2013. Foi quando a pesquisadora espanhola, que vive no Brasil há seis anos e é professora de Relações Internacionais na USP, entrou em contato com o grupo pela primeira vez. Para Solano, as acusações do apresentador de que os Black Blocs seriam uma semente de fascismo “beiraram o surrealismo” e reproduzem o tipo de preconceito que permeia o “senso comum”.

Jô não está sozinho. Em recente editorial, a Folha de S. Paulo caracterizava os Black Blocs como “soldados da arruaça” merecedores do “epíteto de fascista”. Nas coberturas de manifestações, eles sempre são retratados como responsáveis pela violência da Polícia Militarvândalos e baderneiros.

Solano defende que “os movimentos sociais deveriam ser abordados pela mídia com mais cautela e mais responsabilidade social e não jogando esse jogo do espetáculo. É importantíssimo dar voz aos protagonistas, não falar por eles e tentar entender melhor pelo que eles passam. O que nós queremos fazer no livro é uma questão de pesquisa e dar voz aos indivíduos. O que você faz simplesmente é apresentar um fenômeno social para a sociedade”.

“Respeito o Jô como obviamente respeito qualquer jornalista na sua profissão. Mas uma coisa é o respeito pelo trabalho dele, e outra coisa é ficar calada quando alguém questiona questões importantíssimas da sua pesquisa e fala coisas que não têm nada a ver. Para mim, respeito não passa por ser silenciado, passa pelo debate e pelo diálogo. Justamente por respeito, nós fomos e estávamos bem felizes por sermos convidados, mas no final, na hora do debate, foi tudo muito diferente do esperado”, contou a pesquisadora…