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Um empresário, um administrador e um oficial da reserva da Marinha são a nova face dos protestos contra o governo e o PT

Do Estadão:

Um empresário, um administrador e um oficial da reserva da Marinha são a nova face dos protestos contra o governo e o PT.

Rogerio Chequer

Empresário de 46 anos

‘Não somos a favor, agora, de impeachment’

“Deixe muito claro que nós somos totalmente contra a intervenção militar”, pediu Rogerio Chequer, empresário de 46 anos, ao Estado. Ele é um dos criadores do Movimento Vem Pra Rua, que lidera parte dos protestos anti-Dilma Rousseff que foram às ruas nos últimos meses. Segundo Chequer, o grupo não defende o impeachment da presidente. Mas afirma que a opinião sobre o tema ainda “pode mudar”.

“Novas evidências, novos fatos, novas informações estão aparecendo a cada hora. Nós não somos contra impeachment. Nós não somos a favor do impeachment agora”, diz o empresário. O afastamento da presidente é reivindicação de outros grupos de oposição ao governo Dilma, como o Revoltados ON LINE.

Recentemente, Chequer entrou em contato com o fundador desse movimento, o administrador de empresas Marcello Reis. Ele nega, porém, que a conversa tenha sido para articular um ato conjunto entre os dois grupos. “A gente falou por telefone algumas vezes. O objetivo não foi promover atos juntos. Foi coordenar alguns atos que nós estávamos promovendo e ele estava promovendo. Nós, por enquanto, não temos nenhum plano firme de fazer uma coisa juntos”, afirma o empresário.

O Movimento Vem Pra Rua foi criado neste ano por Chequer e por outro homem que usa o codinome de Colin Butterfield. “Ele lida com empresas. Melhor não citar o nome dele”, diz Chequer.

Butterfield faz parte do alto escalão da Cosan, grupo privado que trabalha no segmentos de energia, alimento, logística, infraestrutura e gestão de propriedades agrícolas. Os dois tinham como objetivo criar um espaço onde as pessoas pudessem expor sua indignação com o governo. Criaram uma página no Facebook, que hoje tem mais de 16 mil seguidores. Chequer disse que o movimento conta hoje com mais 80 pessoas que colaboram na produção de material e na organização dos protestos. O grupo sobrevive com recursos provenientes de doações voluntárias e não tem vínculo com partidos políticos. “Tem um grupo de 80 pessoas que ajuda nos movimentos, na mobilização, na produção de materiais. Estão trabalhando em vários Estados. Ainda não temos uma estrutura física, mas a gente vai ter uma em breve”, diz.

Marcello Reis

Administrador de 40 anos

‘Não gosto mesmo de vermelho’

Ao chegar ao restaurante argentino próximo ao Jardim Europa, área nobre da zona sul de São Paulo, que escolheu para dar entrevista ao Estado, o administrador de empresas Marcello Reis, paulistano de 40 anos, pediu distância de qualquer objeto vermelho do estabelecimento. A rejeição é por motivo simples: o vermelho lembra o PT. O PT é o partido da presidente Dilma Rousseff. E o impeachment de Dilma é tudo o que Reis e os seguidores de sua página do Facebook mais querem atualmente. Nem uma camiseta dada por sua mulher – que filmou a entrevista com o celular e pediu anonimato por medo de colocar seu emprego em risco – escapou da restrição: por ter um detalhe vermelho na peça, o presente foi rechaçado.

Fundador da comunidade no Facebook Revoltados ON LINE, criada em 2004, Reis é um dos líderes dos movimentos que tem ido às ruas protestar contra a reeleição de Dilma. Por meio da página, que tem cerca de 308 mil seguidores, o administrador mobiliza quem apoia a destituição de Dilma e acusa de fraudulenta a reeleição da petista.
A página, financiada com doações e pela sua loja de camisetas de estampas anti-Dilma, tem servido para divulgação dos atos, inclusive o que estava previsto para ocorrer ontem. Reis, no entanto, cancelou ao saber que o PT também faria um protesto no mesmo local, a Avenida Paulista. “A gente não precisa de confronto agora.”

Sempre que possível, Reis tenta se descolar do grupo que defende o intervencionismo militar. O movimento tem se feito presente nos atos contra Dilma no último mês. Para ele, primeiro é preciso tentar por todas as possibilidades democráticas. “Até o ano passado acreditei que a intervenção poderia ser uma possibilidade. Mas primeiro nós temos que tentar todos os atos democráticos, para depois chegar numa instância dessas.”

Durante atos realizados em Brasília contra o projeto do governo que flexibilizou a meta fiscal, o administrador foi acusado pelo deputado Paulo Pimenta (PT-RS) de ser nazista e de ter condenações na Justiça do Rio. Reis prometeu processar o parlamentar.
Ele diz negar ajuda financeira de partidos para os protestos. Os gastos, segundo ele, chegaram a R$ 40 mil em novembro.

Sergio Zorowich

Capitão de reserva de 64 anos

‘Assumo o comando para a intervenção’

A presidente Dilma Rousseff chorava em frente às câmeras de TV durante a apresentação do relatório da Comissão Nacional da Verdade, na manhã de quarta-feira, enquanto Sergio Zorowich, de 64 anos, capitão de mar e guerra da reserva da Marinha, explicava seus planos para o futuro do Brasil. “Consumada a intervenção, a gente rasga a Constituição”, disse ele, calmamente, no hall do prédio onde mora de frente para o mar, em Santos, no litoral sul de São Paulo.

Zorowich faliu em 2013 depois de perder contratos com a Petrobrás, segundo ele por culpa do cartel investigado pela Operação Lava Jato. Agora, é “o” líder do movimento que pede uma intervenção militar.

Na semana passada, o corretor de imóveis Leandro Cimino, um dos seguidores de Zorowich, enviou a seguinte mensagem à reportagem: “Pode divulgar. O País tornou-se acéfalo. Assumo o comando para a intervenção civil/militar. Sérgio Zorowich, Presidente da República Federativa do Brasil”.

Indagado sobre o texto, o autointitulado presidente foi sintético. “Disse a eles: vocês estão divididos, essa é a teoria da derrota. Eu estou disposto, eu tenho um discurso e vou me autoproclamar o líder”. “Eles”, no caso, são um grupo sem número definido de pessoas que trama, via redes sociais, a volta dos militares.

Na sequência, o corretor Cimino foi “nomeado” ministro das Relações Exteriores. “Ele (Cimino) me mandou uma mensagem perguntando se podia. Eu respondi que podia”, explicou Zorowich.

Segundo ele, a intervenção militar é o único caminho possível para “extirpar o câncer” da corrupção de todas as esferas do poder.

A estratégia é mobilizar setores médios das Forças Armadas – “pois sem força não há poder” -, destituir todas as autoridades dos Três Poderes, julgar sumariamente os corruptos e só então, com o País livre da “ditadura petista”, devolver o poder ao povo.

Antes de consumar a intervenção, Zorowich tranquiliza os temerosos de um novo ciclo de abusos e torturas igual ao que foi revelado pela Comissão da Nacional Verdade. “Nem precisa prender ninguém. Basta cassar os direitos políticos de todo mundo.”