“Uma sobe e puxa a outra”, diz Flávia Oliveira sobre Rebeca Andrade e mulheres negras no esporte

Rebeca Andrade conquistou a medalha de prata

Em sua coluna no Globo, Flávia Oliveira comemorou medalha de Rebeca Andrade, prata na ginástica artística e ressaltou o simbolismo da conquista por uma mulher negra.

“Não é trivial para uma negra parir um filho no Brasil, país forjado na escravidão e, ainda hoje, habituado a explorar, depreciar, criminalizar, encarcerar, exterminar corpos que, com racismo, com tudo, representam 56% da população, maioria sub-representada. Sou, por isso, devota do útero das mulheres negras, senhoras do ventre do mundo, como nos ensinou o Salgueiro em mais de um carnaval”.

Ela lembra de Aída dos Santos, também negra, que em 1964 conquistou o quarto lugar no salto com vara; sua filha, Valeska dos Santos Menezes, ouro no vôlei em Pequim em 2008; Daiane dos Santos, inspiração de Rebeca, e Simone Biles, que desistiu da competição, segundo Flávia, por “trocar o Olimpo pela humanidade ao priorizar, em vez da expectativa alheia, a saúde mental, a alegria, a vida”.

Leia também: Daiane dos Santos chora ao falar sobre prata de Rebeca: “Representatividade muito grande”

Quem é Rebeca Andrade, medalhista de prata nos Jogos Olímpicos

“Poucas vezes a frase ‘uma sobe e puxa a outra’, síntese do feminismo negro, fez tanto sentido. E tudo isso acontecendo no Julho das Pretas, mês em que se comemora, no dia 25, o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, no Brasil dedicado a Tereza de Benguela, rainha do Quilombo do Quariterê, hoje território de Mato Grosso”, diz.

“A prosperidade da gente preta — e não só no esporte — só se materializa coletivamente num país de portas estreitas para afrodescendentes, sobretudo mulheres. O país que amanheceu de olhos vidrados na tela da TV em torcida por Rebeca Andrade é a nação em que o chefe de Estado se reúne sem pudor, sorriso estampado na cara, com líder de partido neonazista alemão, descendente de figura do alto escalão do governo de Adolf Hitler. A criminalização da cultura negra é real para o funk em pleno século XXI, como foi para o samba na virada do XX”, prossegue.

A colunista ainda lembra da prisão de Paulo Galo e da esposa, Géssica Barbosa, e completa:

“Sorte nossa é que, do mesmo solo, floresce Rebeca Andrade, a jovem negra que ontem nos restituiu a prata. Puro ouro. Como costuma dizer o historiador Luiz Antonio Simas, essa brasilidade há de nos salvar do Brasil”.

Caique Lima

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