Unegro se manifesta contra preconceito à cantora Fabiana Cozza

*Nota de apoio à cantora negra Fabiana Cozza*

A *União de Negras e Negros pela igualdade* vem a público, pronunciar-se sobre o caso de *“colorismo : de uma maneira simplificada, o termo quer dizer que, quanto mais pigmentada uma pessoa, mais exclusão e discriminação essa pessoa irá sofrer”.* ocorrido a cantora, ativista negra, Fabiana Cozza.

Nesta semana foram veiculadas notícias sobre o espetáculo em homenagem à Dona Ivone Lara , onde a cantora Fabiana Cozza conquistou o papel, no musical “Dona Ivone Lara – um sorriso negro”, onde virou antagonista nas discussões depois da escolha do elenco. Sob ponto de vista estritamente musical, é acertada a escolha da cantora paulistana Fabiana Cozza para dar voz e vida a Ivone Lara (13 de abril de 1922 – 16 de abril de 2018) em espetáculo de teatro programado para entrar em cena a partir de 14 de setembro, no Teatro Carlos Gomes, na cidade do Rio de Janeiro (RJ).

Além de ter a simpatia e a defesa da família Lara sobre o seu nome, é uma afro descendente, legítima da comunidade do samba. Com o legítimo dom e de incontestável qualidade musical, que a credencia para atuar no espetáculo orquestrado sob direção musical do maestro Rildo Hora, Cozza – em foto de Kriz Knack – é uma das melhores cantoras surgidas no Brasil do século XXI.

Desde sempre, Fabiana seguiu os passos de seu pai Oswaldo dos Santos (negro) que foi um dos maiores intérpretes de samba enredo do carnaval de São Paulo e tetra campeão defendendo a Camisa Verde e Branco. As raízes de Fabiana e sua relação com o samba vem do terreiro mais tradicional de São Paulo conhecido como Barra Funda!

A história de Fabiana Cozza com Dona Ivone Lara é uma das mais puras, íntimas e verdadeiras que o samba já produziu e isso deve ter pesado na escolha dos diretores da peça, sem falar do talento extraordinária desse negra mulher!

As críticas a indicação de Fabiana é pelo fenótipo da pele, diferente de Dona Ivone Lara, mas não menos negra, como mulher afrodescendente e de decisão política sobre seu pertencimento à população negra. Até quando a casa grande vai nos separar? Até quando seremos jogados uns contra os outros pela questão do fenótipo? Até quando vamos nos auto boicotar?

As estratégias usadas há séculos pelos colonizadores ainda estão vigorando em dias atuais, e por mais incrível que possa parecer, Wylli Lynch deixou um legado devastador para as população negra no mundo inteiro, quando escreveu sua carta de recomendações ensinando os escravistas de nos manterem desunidos usando as diferenças de tons de pele e fenótipos contra nós!

É fundamentalmente importante deixar bem escuro nossa posição acerca do protagonismo de termos mulheres negras de pele escura ocupando os espaços, não apenas em espetáculos como, todos os espaços onde a presença negra é ainda é muito tímida. Por outro lado, isso não nos permite, cair nas armadilhas da criminalização da negra de pele clara, Fabiana Cozza desconsiderando sua negritude e desconstruindo sua história junto a comunidade negra e os redutos culturais e ancestrais de fortalecimento da população negra. Não podemos cair nas armadilhas do sistema racista que nos oprime.

A segregação, e a divisão entre nós não nos ajuda a romper com esta sistemática e com a teoria do colorismo, pelo contrário, faz com que os mesmos opressores da escravidão permaneçam firmes e fortes com a multiplicação de seu ideário racistas, fragmentador e violento, ainda no século XXI.

*”Lutei contra a dominação branca e lutei contra a dominação negra. Porque eu promovi o ideal de uma sociedade democrática e livre na qual todas as pessoas possam viver em harmonia e com oportunidades iguais. É um ideal que espero viver mas, se necessário for, é um ideal para o qual estou preparado para morrer”. Nelson Mandela*

*UNEGRO – União de Negros e Negras do Estado de São Paulo*.

O termo colorismo foi usado pela primeira vez pela escritora Alice Walker no ensaio “If the Present Looks Like the Past, What Does the Future Look Like?”, que foi publicado no livro “In Search of Our Mothers’ Garden” em 1982.

Erika K Nakamura

Erika K. Nakamura, 36 anos, advogada de formação, abraçou a fotografia e o jornalismo por paixão. Com seu iPhone 5 capta imagens originais e surpreendentes dos lugares pelos quais passa. É uma leitora sedenta de livros sobre a história da Inglaterra -- e também dona do coração do jornalista Paulo Nogueira.

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