Veja pelo menos 10 mentiras nas declarações de Pazuello na CPI da Covid

De Laís Modelli, Roney Domingos, Gabriel Morais, Chandy Teixeira e Vinícius Cassela no G1, O Globo, GloboNews e TV Globo.
(…)
LEIA – Senador Rogério Carvalho pede que depoimento do Pazuello seja mandado para o Ministério Público
2º dia (quinta-feira, 20)
LEIA MAIS – Professores judeus do Holocausto corroboram comparação de Pazuello ao nazista Eichmann
“As medidas de isolamento não são também, da mesma forma que outros medicamentos, outras ações, também não são cientificamente comprovadas”
A declaração é #FAKE. Veja o porquê: Estudos brasileiros e internacionais já comprovaram a eficácia do isolamento e do distanciamento social para conter a transmissão do novo coronavírus.
Um estudo feito pelo professor do Instituto de Química da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) Eduardo Lima, em maio de 2020, com base em dados do Ministério da Saúde, aponta uma tendência constante de achatamento da curva de óbitos após a decretação das medidas restritivas nos estados brasileiros. “Os casos vinham em uma crescente exponencial, mas isso desacelerou, o que é a constatação científica e aferida por números de que o isolamento é eficaz”, afirmou Lima na ocasião da divulgação da pesquisa.
(…)
“Nunca foi escondido (o número de óbitos pela Covid-19)”
A declaração é #FAKE. Veja o porquê: Primeiro, o horário de divulgação do número de mortes por Covid-19 pelo ministério, que era às 17h na gestão do ministro Luiz Henrique Mandetta (até 17 de abril de 2020), passou para as 19h e depois para as 22h na gestão Pazuello, dificultando ou inviabilizando a publicação dos dados em telejornais e veículos impressos. “Acabou matéria no Jornal Nacional”, disse o presidente Jair Bolsonaro, em tom de deboche, ao comentar a mudança.
Depois, houve uma alteração de caráter qualitativo. O portal onde o ministério colocava o número de mortos e contaminados foi retirado do ar na noite do dia 4 de junho do ano passado. Quando retornou, depois de mais de 19 horas, passou a apresentar apenas informações sobre os casos “novos”, ou seja, registrados no próprio dia. Desapareceram os números consolidados e o histórico da doença desde seu começo. Também foram eliminados do site os links para downloads de dados em formato de tabela, essenciais para análises de pesquisadores e jornalistas, e que alimentavam outras iniciativas de divulgação. Entre os itens que deixaram de ser publicados estavam: curva de casos novos por data de notificação e por semana epidemiológica; casos acumulados por data de notificação e por semana epidemiológica; mortes por data de notificação e por semana epidemiológica; e óbitos acumulados por data de notificação e por semana epidemiológica.
(…)
1º dia (quarta-feira, 19)
“A decisão do STF em abril de 2020 limitou ainda mais a atuação do governo federal nessas ações. Assim, não há possibilidade de o Ministério da Saúde interferir na execução das ações dos estados na saúde sem usurpar as competências dos estados e municípios”
A declaração é #FAKE. Veja o porquê: Em nenhum momento o Supremo proibiu ou limitou ações federais. Na verdade, o Plenário decidiu, no início da pandemia, em 2020, que União, estados, Distrito Federal e municípios têm competência “concorrente” na área da saúde pública. O STF diz que o entendimento foi reafirmado pelos ministros em diversas ocasiões. “Conforme as decisões, é responsabilidade de todos os entes da federação adotarem medidas em benefício da população brasileira no que se refere à pandemia”, afirma o Supremo. Em decisões tomadas no ano passado, os ministros fixaram entendimentos no sentido de que estados e municípios também podem determinar regras de isolamento, quarentena e restrição de transporte e trânsito em rodovias para combater a epidemia do coronavírus. As prefeituras e os governos estaduais têm ainda competência para definir a lista de atividades essenciais – aquelas que não sofrem restrições de funcionamento em meio à pandemia. Em outubro, o plenário também referendou uma liminar do ministro Alexandre de Moraes, que reconheceu e assegurou a competência concorrente para que os estados e o Distrito Federal tomem medidas para combater a doença. Em nenhuma dessas decisões, a Corte retirou o poder da União de agir.
“Na crise do zika vírus, ela foi utilizada e foi colocada como protocolo pelo Ministério da Saúde, cloroquina em altas doses – isso para grávidas”
A declaração é #FAKE. Veja o porquê: Não houve nenhum protocolo de uso do medicamento na crise do vírus da zika. É possível, inclusive, ver que não há nenhuma menção no documento oficial que versa sobre “A resposta do SUS” em relação à doença. O infectologista Julio Croda afirma que o uso da cloroquina foi até testado em grávidas na época do zika para investigar se era capaz de proteger o cérebro de fetos contra a infecção pelo vírus, mas em nenhum momento o Ministério da Saúde adotou o medicamento nos protocolos. “Foi tudo projeto de pesquisa”, diz Croda. O infectologista da SBI Leonardo Weismann confirma. “Houve um estudo com camundongos, demonstrando que a cloroquina poderia ser eficaz para proteger o cérebro de fetos contra a infecção pelo vírus zika. Entretanto, os resultados do laboratório nunca foram testados em humanos”, diz. “Desconheço documento de tratamento de cloroquina como protocolo contra a zika. Nós publicamos um artigo sobre a ação da cloroquina no vírus da zika. Porém, a concentração para inibir o vírus era muito alta e não poderia ser alcançada em seres humanos devido à toxicidade”, afirma o médico Amílcar Tanuri, que coordena pesquisas no Laboratório de Virologia Molecular do Instituto de Biologia da UFRJ. De acordo com a Anvisa, não há indicação aprovada em bula para o tratamento de grávidas com zika vírus com cloroquina ou hidroxicloroquina.
(…)
“Hoje o Brasil figura entre os países que mais imunizaram no mundo. Ficamos atrás apenas de Estados Unidos, China e Índia”
#NÃOÉBEMASSIM. Veja o porquê: O Brasil é, de fato, um dos países que mais vacinaram no mundo em números absolutos. Mas não está em 4º lugar. Além dos países citados pelo ex-ministro, o Reino Unido também aplicou mais doses. Além disso, o país aparece atrás de mais de 80 países se for considerado o percentual da população que recebeu ao menos uma dose de algum dos imunizantes, de acordo com o Our World in Data.
“A cloroquina é um antiviral e um anti-inflamatório conhecido pelo Brasil”
A declaração é #FAKE. Veja o porquê: A cloroquina não é um antiviral nem um anti-inflamatório, e sim um antiprotozoário. O infectologista Leonardo Weissmann, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), explica que o medicamento é usado contra a malária.
(…)
“Não foi formalizado nem foi interrompido nada no ministério (em relação à vacina do Butantan). Nunca houve a ordem”
A declaração é #FAKE. Veja o porquê: Em outubro, o então ministro anunciou um protocolo de intenção de compra de 46 milhões de doses da CoronaVac, produzida pelo Instituto Butantan em parceria com a Sinovac. Um dia depois, porém, Bolsonaro afirmou que o governo federal não ia adquirir “vacina da China”.
(…)
“Essa plataforma (TrateCOV), ela não foi distribuída aos médicos (…) O aplicativo – o aplicativo, não, a plataforma, não é um aplicativo – nunca entrou em operação”
A declaração é #FAKE. Veja o porquê: No dia 11 de janeiro, durante um evento em Manaus, o Ministério da Saúde lançou o aplicativo TrateCOV. O lançamento da plataforma também foi noticiado na TV Brasil. O TrateCOV foi definido pela pasta como “uma plataforma de auxílio que trabalha a coleta de sintomas e sinais de pacientes, permitindo que médicos possam estabelecer, com maior segurança e rapidez, o diagnóstico e optar, conforme sua autonomia profissional, ao tratamento mais adequado”. O então ministro defendeu o chamado tratamento precoce na ocasião. O próprio ministério, aliás, usou o termo “aplicativo” nas redes sociais. E ao menos 342 profissionais foram habilitados para utilizar a plataforma, segundo a própria pasta. O G1 acessou a plataforma, que entrou, sim, em operação e recomendava o “tratamento precoce” com medicamentos ineficazes contra a Covid-19, como cloroquina, hidroxicloroquina e azitromicina.
(…)
“Eu tomei conhecimento de riscos (de desabastecimento de oxigênio) em Manaus no dia 10 (de janeiro), à noite, numa reunião com o governador e o secretário de Saúde”
A declaração é #FAKE. Veja o porquê: A equipe do Ministério da Saúde se reuniu com o governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), o prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), e outras autoridades seis dias antes da data citada por Pazuello, segundo um documento do próprio ex-ministro.
(…)
“Eu não recomendei o uso da hidroxicloroquina nenhuma vez”
A declaração é #FAKE. Veja o porquê: O ministro Pazuello assumiu, de forma interina, o cargo de ministro da Saúde em 16 de maio de 2020, onde ficou até 22 de março de 2021. Quatro dias após começar a despachar como ministro, no dia 20 de maio, o ministério divulgou um documento com orientações sobre tratamento precoce de pacientes com a Covid-19. Entre as indicações de medicamentos para o combate da doença estavam o uso da cloroquina, azitromicina e hidroxicloroquina, que compõem o chamado “kit covid” e não possuem comprovação científica de eficácia contra o novo coronavírus.
(…)