Apoie o DCM

Ver a vitória de Trump como retrocesso é “absurdo”, diz Mangabeira Unger

Da BBC Brasil:

Os brasileiros não têm por que achar a eleição de Donald Trump “incompreensível” – e considerá-la um retrocesso é “absurdo”.

Essas opiniões, proferidas pelo filósofo e teórico Roberto Mangabeira Unger, fogem do tom catastrófico usado com frequência para discutir o triunfo do republicano, eleito presidente dos EUA na semana passada.

Em entrevista à BBC Brasil, Unger, que é professor da Universidade Harvard e foi ministro de Lula e Dilma, disse que a surpresa brasileira é injustificada, pois vivemos um vazio na política semelhante ao dos Estados Unidos. Além disso, também teríamos uma maioria trabalhadora abandonada pela esquerda.

“O Brasil é o país do mundo mais parecido com os Estados Unidos. A tragédia dos dois é negar instrumentos e oportunidades à maioria, que é cheia de energia, mas sem condições de transformá-la em ação fecunda.”

Apesar dos paralelos, o professor, que deu aula para o atual presidente americano, Barack Obama, não faz previsões sobre o surgimento de um “aventureiro” como Donald Trump nas eleições de 2018.

Ele apoia uma possível candidatura do ex-ministro Ciro Gomes (PDT) que, espera, seja um outro tipo de outsider – um rebelde contrário à linha dominante, que traga um novo rumo para o país.

Para Unger, após a derrocada do nacional-consumismo dos governos petistas, o Brasil vive sem um projeto nacional.

Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

BBC Brasil – Grande parte da imprensa internacional e dos intelectuais descreve a vitória de Trump como um retrocesso. O senhor concorda?

Roberto Mangabeira Unger – Isso é absurdo. Muito disso vem da Europa, que está agora afundada em um completo retrocesso. Eles, que abandonaram qualquer tentativa de construir (uma opção viável), estão chamando isso de retrocesso?

BBC Brasil – Se não é retrocesso, como encarar a vitória do republicano?

Mangabeira – Em resumo, a eleição de Trump é a rebeldia da maioria trabalhadora branca do país contra seu abandono. Aí a crítica é: Trump não é uma resposta adequada.

Mas em política tudo tem a ver com as alternativas. Então, o que é melhor? Continuar com essa ortodoxia conservadora do Partido Democrata ou virar a mesa? Essas são as alternativas reais da política real.

A partir dessa reviravolta em Washington, os americanos devem buscar uma resposta mais adequada e séria para o problema que a eleição de Trump revela.

(…)