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Veríssimo critica financiamento privado de campanhas

De Veríssimo, no globo:

Não faz muito, a Suprema Corte dos Estados Unidos, dominada por conservadores, deu ganho de causa a uma organização chamada Citizens United, que pedia o fim de limites para as doações de particulares e de empresas a partidos políticos. Hoje, milionários e grandes corporações podem dar, abertamente, o que quiserem para eleger quem quiserem, criando assim oportunidade para os americanos — como disse um cínico — terem o melhor governo que o dinheiro pode comprar. Figuras como os lamentáveis irmãos Koch, com alguns dos bolsos mais fundos da América, podem promover sua agenda reacionária e inventar e destruir candidatos à vontade, dentro da lei.

No Brasil se pretende fazer o contrário e limitar o que até agora era ilimitado. A decisão a favor da Citizens United está sendo considerada nos Estados Unidos uma revolução nas regras eleitorais, cujo resultado óbvio será multiplicar o poder de o dinheiro influenciar a política. No Brasil, se a ideia pegar, ela será histórica no sentido oposto. Claro que a simples existência de uma lei para controlar a influência do dinheiro na política não vai impedir que ela continue. Estamos, afinal, no país do dá-se um jeito. Mas só coibir e criminalizar a farra já será um progresso.

A questão maior por trás de todas as lambanças sendo investigadas atualmente é a do financiamento de partidos e campanhas. Enfrentá-la não será fácil. Os maiores interessados em que não vingue uma reforma eleitoral são os que têm acesso aos bolsos mais fundos da nação, e têm mais a oferecer na defesa dos interesses dos maiores pagadores. Na fila das reformas necessárias, depois da reforma política emperrada, deve vir a reforma eleitoral. Não se sabe em que Congresso, se sobrar algum Congresso depois deste vendaval, ela será discutida. Mas, apesar da previsível oposição, pelo menos se estará discutindo a questão. Com incontáveis anos de atraso.

Se vier uma reforma eleitoral, teremos a satisfação, boba mas bem-vinda, de termos feito uma revolução que, pelo menos desta vez, não imitou uma americana, antes a melhorou.