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Veríssimo sobre Petrobras com Bolsonaro: “há alguns anos inventaram de mudar o nome da empresa hoje sendo fatiada”

O escritor Luís Fernando Veríssimo escreveu uma crônica sobre a privatização da Petrobras no Globo. “Eu fazia xixi na cama. Eu sei, eu sei: nada menos importante neste grave momento da vida nacional do que memórias da minha incontinência urinária. Mas espere, o assunto é sério. Eu tinha uns 4 anos e acordava todos os dias boiando num lago que eu mesmo produzira. Era preciso tomar uma providência, nem que fosse só para poupar os lençóis. Decidiram que eu deveria fazer xixi antes de dormir para não fazer dormindo. Simples, mas não funcionava. Me lembro de estar de pé na frente da privada, com sono, tentando cooperar e não conseguindo. Meu pai, ao meu lado, me incentivando”.

Ele desenvolve o raciocínio: “por que pensei nisso agora? É a lembrança mais remota que tenho do meu pai e de mim mesmo. Mas pensei principalmente no Getúlio Vargas, que eu não sabia quem era, muito menos que mandava no Brasil. O petróleo, ainda por ser descoberto no país — um geólogo americano nos asseguraria que ele não existia — , já causava agitação. A defesa do nosso hipotético petróleo unia militares nacionalistas e intelectuais, direita e esquerda. A posição do Estado Novo getulista, ligeiramente filofascista, não era clara, mas foi o próprio Getúlio quem, anos mais tarde, diria a frase seminal “o petróleo é nosso”. Um slogan que perdurou até agora, quando os que antigamente eram chamados de “entreguistas” já calculam o que será entregue, sem encontrar resistência, na salada neoliberal em que está se transformando o futuro governo Bolsonaro”.

Veríssimo finaliza: “há alguns anos inventaram de mudar o nome da empresa hoje sendo fatiada, de ‘Petrobras’ para ‘Petrofax’ ou coisa parecida. Uma das razões para a mudança era, juro, que o final ‘bras’ em inglês lembraria ‘brassière’, sutiã. Passaríamos por bobos no mundo das petroleiras. Mas já estamos passando”.