“Viado não pode enxergar o verde oliva”: ex-sargento gay relata pressão para ele sair do Exército
Do Uol:
Deixar o Exército no Rio de Janeiro, voltar para sua terra-natal e entrar para a Polícia Militar do Rio Grande do Norte não foram decisões simples e individuais para o cabo Graco Menezes Tasso, 40, vítima de homofobia nas Forças Armadas do Brasil. Em 2002, lembra o potiguar, ele foi incisivamente pressionado a deixar o Exército depois de a corporação descobrir que ele não apenas era gay, como tinha um relacionamento amoroso com um marujo.
Tasso falou ao UOL sobre a mudança de instituição e também de perspectiva sobre a própria sexualidade – com a qual, hoje, garante, lida com “muito menos traumas”.
De acordo com o policial, o namorado passou a esperá-lo na porta do quartel ou a frequentar os churrascos junto com ele. “Eu nunca ‘dei na cara’ que era gay, mas o pessoal deduziu por esses comportamentos, e também porque, eventualmente, meu então namorado ligava para mim no quartel. Em um desses churrascos, chegou a rolar uma discussão, uma briga com outros sargentos que não aceitavam esse tipo de coisa. Para mim, sempre foi mais cômodo que tudo ficasse, de fato, mais velado –mas foi assim que acabou vindo à tona”, relata.
“Eu não ando com uma bandeira do movimento gay, e, na época, não queria mesmo que ninguém soubesse sobre a minha orientação. Hoje, lido com isso muito mais tranquilamente”, conta.
Até chegar a esse estágio de aceitação sobre se afirmar gay em público, o policial lembra que a dificuldade no Exército foi muito além da discussão informal um churrasco de fim de semana.
“Acho tudo isso um grade paradoxo: como um militar não pode viver a sexualidade dele, se já desde a história antiga, na Grécia, sabidamente isso ocorria? Mas é incrível: as pessoas ainda se chocam”, diz. Entre “as pessoas”, ele destaca superiores que, até ele se confirmar gay, elogiavam publicamente seu trabalho.
“Eu trabalhava na formação dos recrutas. De repente, começaram a me perseguir veladamente –me tiraram disso e me puseram para ser instrutor da banda, mesmo eu não sendo músico”, narra. “Chegou ao ponto de meu subcomandante, à época, um major, me coagir a pedir para que eu saísse da corporação usando, para isso, minha orientação sexual. Ele dizia que ou era isso, ou eu seria expulso e isso chegaria à minha família. Ele estudou meus pontos fracos e foi para cima”. (…)