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Vítimas revelam rotina de abusos de seita cristã que queria criar um céu na Terra

A diretora Ellena Wood e o jornalista Jon Ironmonger em frente à antiga sede do Exército de Jesus, na Inglaterra – Foto: BBC/Reprodução

Sobreviventes do Exército de Jesus detalham os abusos cometidos dentro da seita cristã fundada na Inglaterra com a promessa de criar um “céu na Terra”. Com uniformes militares e cultos intensos, o grupo reunia milhares de fiéis, mas escondia uma rotina marcada por abusos físicos, sexuais e psicológicos. “Perto de 600 ou 700”, disse uma ex-integrante ao estimar o número de vítimas. Crianças eram separadas dos pais, agredidas e obrigadas a participar de sessões com exorcismos. “Quase todos ainda estavam traumatizados”, afirmou Ellena Wood, diretora do documentário da BBC que investigou o caso.

Os abusos foram acobertados pela liderança da seita, inclusive pelo fundador Noel Stanton, descrito por um ex-ancião como “pedófilo predatório”. Documentos e relatos revelam que ele e outros líderes ignoraram denúncias por décadas. A diretora do documentário relatou que muitas vítimas não entendiam que haviam sido abusadas, e algumas ainda sentiam culpa. Um ex-integrante, mesmo ciente das violências sofridas, confessou que voltaria à seita se ela voltasse a funcionar. “Você não deixa uma seita e simplesmente segue com a vida”, disse Wood.

Após a exposição dos casos, a igreja foi encerrada e a fundação responsável pediu desculpas às vítimas. Um programa de reparação pagou compensações a centenas de pessoas, com valores médios de R$ 89 mil. Wood afirma que parte dos ex-membros teve experiências positivas, mas reforça que nada justifica o encobrimento dos abusos. Em uma das cenas mais fortes do documentário, um antigo defensor da seita chora ao reconhecer publicamente os crimes. “Foi a primeira vez que alguém da liderança admitiu aquilo”, afirmou.