Vítimas revelam rotina de abusos de seita cristã que queria criar um céu na Terra

Sobreviventes do Exército de Jesus detalham os abusos cometidos dentro da seita cristã fundada na Inglaterra com a promessa de criar um “céu na Terra”. Com uniformes militares e cultos intensos, o grupo reunia milhares de fiéis, mas escondia uma rotina marcada por abusos físicos, sexuais e psicológicos. “Perto de 600 ou 700”, disse uma ex-integrante ao estimar o número de vítimas. Crianças eram separadas dos pais, agredidas e obrigadas a participar de sessões com exorcismos. “Quase todos ainda estavam traumatizados”, afirmou Ellena Wood, diretora do documentário da BBC que investigou o caso.
Os abusos foram acobertados pela liderança da seita, inclusive pelo fundador Noel Stanton, descrito por um ex-ancião como “pedófilo predatório”. Documentos e relatos revelam que ele e outros líderes ignoraram denúncias por décadas. A diretora do documentário relatou que muitas vítimas não entendiam que haviam sido abusadas, e algumas ainda sentiam culpa. Um ex-integrante, mesmo ciente das violências sofridas, confessou que voltaria à seita se ela voltasse a funcionar. “Você não deixa uma seita e simplesmente segue com a vida”, disse Wood.
Após a exposição dos casos, a igreja foi encerrada e a fundação responsável pediu desculpas às vítimas. Um programa de reparação pagou compensações a centenas de pessoas, com valores médios de R$ 89 mil. Wood afirma que parte dos ex-membros teve experiências positivas, mas reforça que nada justifica o encobrimento dos abusos. Em uma das cenas mais fortes do documentário, um antigo defensor da seita chora ao reconhecer publicamente os crimes. “Foi a primeira vez que alguém da liderança admitiu aquilo”, afirmou.