Estadão diz que Bolsonaro ‘não tem palavra e é sinônimo de caos’. Jura?

Atualizado em 27 de janeiro de 2021 às 7:40
Agora que não tem mais Temer o vetusto matutino vê em Doria uma de suas tábuas de salvação

“A palavra do presidente Jair Bolsonaro não vale nada”.

É a primeira frase de mais um Editorial infame do Estadão, tentando limpar a imagem do jornal por ter normalizado e apoiado o delinquente no segundo turno em 2018.

“Tornou-se sinônimo de caos – sua especialidade desde que aprontava como militar indisciplinado”, continua o ‘futuro falido’ jornal da família Mesquita que já nega café aos funcionários e por vezes deixa faltar papel higiênicos nos banheiros da redação.

Depois que se arrependeu de apoiar o golpe de 64, o Estadão começou a publicar receitas de bolo no lugar das reportagens censuradas pelos generais. Um gesto ridículo e que o jornal tentava vender como uma forma de resistência e luta.

A situação se repete agora.

O Estadão deu gás à Lava Jato, fez o que pode para derrubar Dilma, viveu a era dos sonhos no período do usurpador Temer, instigou e conseguiu sucesso na prisão ilegal de Lula, para evitar que o ex-presidente concorresse em 2018, e na sequência optou por Bolsonaro na base do ‘se não tem tu vai tu vai tu mesmo’.

Nas suas rodadas de uísque de fim de tarde no Bar Nossa Senhora, num cantinho aprazível do bairro do Caxingui, os herdeiros só não esperavam que Bolsonaro pudesse golpeá-los, fechando as torneiras do dinheiro público para sustentar uma massa falida que nem a Velhinha de Taubaté acredita mais.

Então tenta o último suspiro: partir para cima do capitão e sonhar com um candidato qualquer que seja indicado e tenha apoio de FHC, outro que está no bico do corvo, especialmente do ponto de vista moral, em 2022.

O Estadão virou piada. Só que aquelas sem graça, que ninguém mais ri.

Aqui o Editorial desta quarta para você se divertir um pouco.

Afinal a vida não é feita só de traição e dor.

A palavra do presidente Jair Bolsonaro não vale nada. Diz algo num dia para desmentir suas próprias declarações no dia seguinte, desmoralizando-se como chefe de governo. Bolsonaro tornou-se sinônimo de caos – sua especialidade desde que aprontava como militar indisciplinado.

A rigor, sua gestão nem pode mais ser chamada de “governo”, pois um governo presume alguma direção, projetos claros e liderança política razoavelmente sólida. Bolsonaro não inspira nada disso: é, ao contrário, fonte de permanente inquietação e desorganização.

Para o País que trabalha e produz, está claro que não se deve contar com um governo que não existe mais, se é que algum dia existiu. Pior: é preciso encontrar maneiras de defender a vida e o patrimônio da dilapidação institucional e administrativa promovida pelo bolsonarismo.

Raros são os ministros de Bolsonaro que se salvam. A mediocridade é tamanha que o País aplaude quando um ministro não faz mais que sua obrigação e não atrapalha seu setor. Em áreas estratégicas, como Educação, Saúde, Meio Ambiente e Relações Exteriores, há mais do que simples incapacidade: Bolsonaro colocou ali ministros cuja missão parece ser a de ajudá-lo a vandalizar o Brasil.

De vez em quando, alguém lembra do dever de chamar esses sabotadores à responsabilidade. Atendendo a uma representação do partido Cidadania, que acusa o almoxarife que comanda a Saúde, Eduardo Pazuello, de omissão diante da crise de desabastecimento de oxigênio para doentes de covid-19 em Manaus, a Procuradoria-Geral da República requereu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a instauração de inquérito.

Não deve ter sido fácil para o procurador-geral da República, Augusto Aras, fazer o requerimento, mas, premido pela indignação nacional, decidiu afinal tomar alguma providência, e o ministro do STF Ricardo Lewandowski rapidamente atendeu ao pedido de inquérito.

A insanidade no Ministério da Saúde, que agora se tornou caso de polícia, retrata com fidelidade a essência do governo Bolsonaro – mas, em defesa do intendente, enfatize-se que a responsabilidade final e soberana é de quem o colocou lá.

Foi Bolsonaro quem passou os últimos meses a fazer campanha contra a vacina, contra o distanciamento social e contra as autoridades que trabalhavam para conter a pandemia. Promoveu aglomerações, receitou remédios inúteis e perigosos e escarneceu de mortos e doentes.

Pazuello, portanto, não é causa, mas consequência de um catastrófico desgoverno – cujo presidente ninguém de bom senso leva mais a sério e cujo principal fiador, o outrora superpoderoso ministro da Economia, Paulo Guedes, sai de férias e ninguém dá pela falta.

Aos brasileiros aflitos com as sombrias perspectivas econômicas após o fim do auxílio emergencial, Bolsonaro reserva o mais absoluto desdém: “Lamento muita gente passando necessidade, mas nossa capacidade de endividamento está no limite”. Ou seja, Bolsonaro não perde o sono diante do sofrimento de milhões de brasileiros a quem lhe coube governar e não toma nenhuma medida para cortar gastos e viabilizar o imprescindível auxílio emergencial.

Tampouco se empenha pelas reformas e pelas privatizações. A recente renúncia do presidente da Eletrobrás, Wilson Ferreira Júnior, está diretamente relacionada à dificuldade de tocar adiante a privatização da estatal, em razão da falta de envolvimento de Bolsonaro. Não foi o primeiro a abandonar o barco por frustração das expectativas criadas pelo discurso supostamente liberal de Bolsonaro – no qual só acreditou quem quis.

O objetivo de Bolsonaro na política sempre foi o de salvaguardar os interesses de seu clã. Não é por outro motivo que entrou de cabeça no processo sucessório das Mesas Diretoras do Congresso. Quer ali políticos que lhe sejam fiéis o bastante para livrá-lo do impeachment, blindar a filharada e, de quebra, aprovar meia dúzia de projetos para agradar a sua base de fanáticos. Os mortos, os doentes, os desempregados e os famintos só lhe interessam na exata medida de seu projeto de reeleição. Foi a isso que Bolsonaro reduziu a Presidência da República.