
No editorial desta quarta-feira (16), o Estadão, que tradicionalmente defende os interesses da direita, afirmou que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), precisa romper com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para preservar sua suposta dignidade. No texto, intitulado “O teorema de Tarcísio”, o jornal argumenta que Tarcísio se aliou ao bolsonarismo golpista, mas tem sido desprezado pelo ex-presidente e sua família.
O jornal compara a situação a uma equação simples: “quem entrega a alma a Jair Bolsonaro, como fez Tarcísio, vale zero para o ex-capitão e sua família”:
O Teorema de Fermat levou mais de 300 anos para ser provado. Já o Teorema de Tarcísio foi bem mais simples: assim como um mais um é igual a dois, quem entrega a alma a Jair Bolsonaro, como fez o governador de São Paulo, vale zero para o ex-capitão e sua família. O corolário desse teorema é que Tarcísio de Freitas se encardiu de bolsonarismo e, em troca, recebeu dos Bolsonaros o mais absoluto desprezo. Não foi por falta de aviso: a lista dos traídos por Bolsonaro é extensa.
Tarcísio ficou no pior dos dois mundos: primeiro, saiu-se mal no teste de fé democrática ao apoiar o golpismo de Bolsonaro; depois, foi reprovado pelo bolsonarismo porque, após alguma hesitação, optou afinal pelo pragmatismo para lidar com a crise deflagrada pelo tarifaço americano contra produtos majoritariamente paulistas – tarifaço que resultou, em parte, do lobby de Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente, junto ao governo de Donald Trump, como forma de pressionar o Judiciário brasileiro a desistir de prender seu pai.
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A duras penas, Tarcísio recebeu uma das maiores lições de sua curta experiência como mandatário: ninguém se associa aos vândalos políticos do clã Bolsonaro impunemente. Todos os que ousaram discordar ou, pecado maior, disputar protagonismo com o ex-presidente nesse movimento que leva seu nome foram excomungados por Bolsonaro.
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Mesmo sendo o governador do Estado mais rico da Federação, Tarcísio levou um sabão público de um filho do ex-presidente porque resolveu lutar pelos interesses dos paulistas, e não pelos interesses de Jair Bolsonaro. O governador certamente poderia ter passado sem esse opróbrio.
A boa notícia, para Tarcísio, é que ainda há uma porta de saída honrosa aberta diante do governador paulista: esconjurar Bolsonaro, pública e peremptoriamente. Se acaso quiser prosseguir numa trajetória digna na política – independentemente dos cargos que venha a disputar no futuro –, Tarcísio e quaisquer outros identificados com o genuíno conservadorismo e a direita liberal têm de, necessariamente, trilhar caminho oposto ao de Bolsonaro.
O capital eleitoral de Bolsonaro não vale o sacrifício das convicções liberais no altar das conveniências políticas. Se Tarcísio de Freitas é um genuíno democrata, e não temos razões para duvidar disso, então ele não se importará de perder a próxima eleição se esse for o preço a pagar pela reafirmação dos mais caros valores da democracia brasileira.