Publicado originalmente na Rede Brasil Atual
Atacado pelo governo de Jair Bolsonaro (PSL) e seus seguidores, o pedagogo pernambucano Paulo Freire(1921-1997) foi homenageado por Guilherme Boulos durante discurso aos manifestantes concentrados no Largo da Batata, em Pinheiros, zona oeste de São Paulo. “O Bolsonaro disse outro dia que Paulo Freire não pode mais ser o patrono da educação. E quem deve ser o patrono? Olavo de Carvalho? Alexandre Frota?”, provocou o líder do Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST), referindo-se ao “guru” do presidente, seus familiares e seguidores, e ao ator de pornochanchadas e deputado federal Alexandre Frota (PSL-SP).
“Nós estamos aqui também para defender a memória de Paulo Freire e seu legado, que nos orgulham lá fora, ao contrário dessa turma lesa-pátria que nos envergonha”, disse, dessa vez referindo-se ao presidente, que tem sido rejeitado em diversas partes do mundo. A manifestação deixou o Largo da Batata em direção ao Masp, na Avenida Paulista, com cerca de 150 mil pessoas, segundo organizadores.
Dirigindo-se ao ministro da Educação, Abraham Weintraub, que afirmou que os professores das universidades federais e institutos federais de educação técnica e tecnológica estão “forçando alunos a irem aos atos”, Boulos foi enfático: “Isso aqui está muito lindo. É prova de que quando a juventude e os professores se levantam, ninguém segura. O tsunami voltou às ruas do Brasil e o ministro da Educação não entende o que está acontecendo. São os estudantes que estão nos empurrando”.
Ele destacou ainda se tratar de cortes no orçamento das universidades e institutos federais, ao contrário do que afirma o governo, que prefere usar o termo “contingenciamento” na tentativa de confundir a população. “É corte sim. Eles (o governo) falam da falta de recursos. Cortaram da Educação mas têm R$ 12 bilhões para pagar aos parlamentares para aprovar a reforma (da Previdência). E não tem dinheiro para a educação?”
A liderança ainda alfinetou o governo Bolsonaro, que chegou a insinuar que os atos em defesa da educação e contra a “reforma” da Previdência são antidemocráticos. “Aqui ninguém defende o fechamento do Congresso, intervenção militar. Temos hoje aqui uma lição de democracia. E o medo começou a mudar de lado. Agora eles estão fechados no palácio e nós estamos na rua. Dia 14 vamos juntos com a juventude, professores e todos os trabalhadores para a greve geral”.
Antes de Boulos, falaram diversas outras lideranças. O presidente da CUT São Paulo, Douglas Izzo, destacou a unidade e prometeu resistência dos trabalhadores à política de cortes e ataques aos direitos dos trabalhadores e estudantes. “No campo, na cidade, aqui no Largo da Batata, tem estudante, trabalhador metalúrgico, funcionários públicos, muitos professores. É a unidade da classe trabalhadora em defesa da educação pública do Brasil. Aqueles que querem entregar o Brasil para o imperialismo internacional, vamos resistir. Aqui tem gente de luta. Aqui tem estudante, aqui tem trabalhador. Não tenho dúvida, no dia de hoje, assim como foi no dia 15, vamos construir a maior greve geral do país. Vamos derrotar o Bolsonaro, vamos derrotar este governo. Aqui é unidade de luta do trabalhador. Vamos botar este governo no lugar. Bolsonaro achincalha, agride professor e estudante. Não tenho dúvidas que o fim dessa jornada é fora ministro e fora Bolsonaro.”
A presidenta do Sindicato dos Professores no Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), deputada estadual (PT) Maria Izabel de Azevedo Noronha, a Bebel, estendeu seu apoio ao movimento. “Estou aqui não como solidária, apenas, mas como integrante deste movimento em defesa da educação. Podem contar comigo. Os estudantes estão nas ruas.”
A presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), Marianna Dias, destacou a construção da greve geral, em 14 de junho, ao lado de trabalhadores e movimentos organizados. “Vamos construir assembleias em todas as universidades, todas as escolas, para que possamos fazer a maior greve geral da história deste país. Vamos fazer muito barulho na greve geral da educação, dos estudantes e trabalhadores”.
“Calculamos mais de 50 mil estudantes, professores e trabalhadores. Nossa expectativa é de aumentar. O ato está capilarizado em várias cidades do Brasil. É um dia histórico para o movimento estudantil e para a história do Brasil”, disse o presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), Pedro Gorky.