Estamos condenados a suportar Temer até 2018? Por Paulo Nogueira

Atualizado em 22 de julho de 2016 às 13:18
Uma calamidade
Uma calamidade

Estamos condenados a suportar Temer até 2018?

Temo que sim. Algum tempo atrás, estava convencido de que o golpe não vingaria. Escrevi sobre isso mais de uma vez.

Minha análise se baseava no seguinte: Eduardo Cunha não teria liberdade de ação para comandar o processo de impeachment na Câmara depois que vieram a público acusações gravíssimas contra ele.

Ele afastado, o processo morreria.

Mas, para espanto de quem se pauta pelo bom senso e pela honestida, o ministro do STF Teori Zavascki só tomou providências em relação a Cunha depois que este pôde terminar seu trabalho macabro.

Foram meses de inação de Zavascki, um horror que caberá aos historiadores do futuro anotar e, talvez, decifrar.

O STF, por Zavascki, teve a chance de abortar uma das manobras mais sujas da história política nacional, mas nada fez.

Consumado o golpe no Senado, as ruas teriam que se manifestar intensamente para derrubá-lo.

Os senadores teriam que saber que seriam depois cobrados pela sociedade pelo golpe da plutocracia.

Mas o fato é que a mobilização não se concretizou. Houve ações de “guerrilha”, como os esculachos em aeroportos, mas nada além disso.

Foi pouco. Foi nada.

Temer deu vários motivos para que a esquerda se inflamasse. É um governo corrupto, com uma plataforma de direita para a qual não teve e não tem votos — e ele, em si, é um antilíder, com suas mesóclises e ausência total de carisma.

A esquerda está entorpecida, e a direita, ao contrário, trabalha ativamente pelo golpe. Veja a Folha e seu último DataFolha, com as manobras desonestas para inflar Temer. Isto é parte, e importante, do ativismo da direita.

Como entender o torpor da esquerda?

O dado mais forte é o enfraquecimento, com os anos, da outrora reconhecida e temida militância petista.

O petismo envelheceu. Numa conversa criminosamente gravada com Dilma, Lula lamentou a ausência das “mulheres de grelo duro” do PT para combater o golpe.

Mas também os “homens de saco roxo”, para seguir no mesmo tipo de imagem, não compareceram.

A abulia da esquerda permitiu aos conservadores o descaro de desqualificar a comprovação de que Dilma é inocente da acusação que a tirou do poder, as pedaladas.

O que era o centro da acusação virou pó, e mesmo assim o golpe seguiu em frente. Nunca se viu, na história do Brasil, uma coisa tão amoral, tão desavergonhada, tão avacalhada.

Este último adjetivo é o melhor: é o golpe mais avacalhado que a plutocracia já armou contra a democracia brasileira. Todos os pudores foram suspensos. Todas as tentativas de manter as aparências foram desprezadas.

Acabou? É Temer até 2018?

Provavelmente sim. Para quem gosta de manter esperança, resta uma única cartada: os protestos de 31 de julho.

Caso eles tenham o vigor, a contundência que faltaram até aqui nas manifestações, pode ser que nos livremos da calamidade chamada Temer.

A melhor hipótese seriam eleições antecipadas, uma hipótese que agrada a 62% dos brasileiros — um número que a Folha tentou esconder em sua última pesquisa.

Mas, para que isso aconteça, 31 de Julho tem que espernear, gritar, exigir a remoção de um presidente ilegítimo.

Meu otimismo antigolpe se esvaiu quando Zavascki deixou Eduardo Cunha massacrar 54 milhões de votos.

Sobrou apenas a torcida. Torço, e muito, para que 31 de Julho seja tudo aquilo que não vimos até agora.