Aquarius, o novo filme do diretor Kleber Mendonça Filho, ainda não estreou no Brasil, mas já nos disse a que veio.
No Festival de Cinema de Cannes, na França, o longa foi reverenciado pela crítica especializada. Peter Bradshaw, do The Guardian, comentou:
“Aquarius é um envolvente estudo de personagem, provocando imersão na vida e na mente de sua imperiosa heroína”
Até a Folha de São Paulo classificou-o como “domínio absurdo do cinema.”
O filme ganhou ainda mais destaque quando o elenco denunciou, com corajosos cartazes e entrevistas, o golpe de Estado em curso no Brasil. Seguraram, serenos e gloriosos, cartazes com dizeres como “O mundo não pode aceitar este governo ilegítimo. 54 milhões e votos foram queimados.”
As notícias de uma intervenção artística de resistência ao golpe em um dos maiores e mais respeitados festivais de cinema do mundo chegaram ao Brasil, gerando uma expectativa naturalmente gigantesca em torno do filme, que tem sido definido como o retrato do país atual.
Agora, às vésperas da estreia, o Ministério da Justiça determina uma classificação indicativa de 18 anos para o longa, sob a alegação de que há cenas de situação sexual complexa. Diretor e elenco negaram o conteúdo sexual e protestaram contra a classificação indicativa.
É realmente difícil conceber que haja cenas impróprias em um filme que conta a história da jornalista e escritora Clara (Sônia Braga), que resiste em desocupar o edifício em que mora, em Boa Viagem (Recife), mesmo recebendo propostas de uma construtora que pretende demoli-lo para erguer um novo.
Onde se encaixariam o sexo e a violência impróprios para menores de dezoito anos em um roteiro como este?
Se considerarmos que Tropa de Elite e Cidade de Deus, por exemplo, com cenas de violência extrema e vocabulário adulto, tiveram classificação indicativa de 16 anos, e ainda que novelas da Globo exibem cenas de sexo e violência no horário nobre sem serem incomodados pelo Ministério da Justiça, seremos conduzidos a uma certeza inevitável: a censura está cada vez mais sofisticada no Brasil sob o julgo de um governo golpista.
Pensemos, portanto, sem medo das armadilhas das teorias conspiracionistas: Quem, afinal, tem protagonizado a resistência ao governo interino, se não os jovens? A quem se atribuem as ocupações e os maiores embates se não aos secundaristas?
São eles o alvo desta censura mascarada: o governo golpista não quer que os secundaristas assistam a Aquarius. Considera-se poder excluí-los, com providência tão pífia, dos processos políticos de um Brasil golpeado.
Todas as tentativas de censura recentes, aliás, têm sido mal-sucedidas, para não dizer patéticas: A lista de Rodrigo Constantino – como esquecer? – que sugeria artistas, “intelectuais” e “jornalistas” petralhas para boicote, a campanha de deslike do Porta dos Fundos pelo vídeo “Delação” e, agora, uma censura mais sofisticada e mais preocupante.
A eminência desse processo de sofisticação da censura deve ser, de fato, uma preocupação constante da classe artística, visto o sombrio passado anti-democrático do Brasil, que o governo interino insiste em novamente trazer a tona, mas, neste caso específico, censurar Aquarius é um tiro no pé.
Talvez o Ministro da Justiça Alexandre de Moraes não saiba, mas tudo o que é proibido instiga mais a curiosidade. Quanto mais apedrejarem Aquarius, mais nos esforçaremos para assisti-lo – um marketing reverso simples que passou despercebido pelo frágil e direcionado senso de oportunidade do Ministério da Justiça.
A censura servirá, evidentemente, para reduzir a bilheteria do longa – como revanchismo barato pelos protestos em Cannes – o que certamente pouco afetará os impactos sociais de uma produção artística desta magnitude.
Não há saída: qualquer coisa que se faça a respeito deste filme que sequer estreou e já tem o respeito da crítica internacional e especialmente da esquerda brasileira só servirá para elevá-lo ainda mais. Nem o Ministério da Cultura e nem ninguém pode controlar os efeitos desta produção artística a curto e médio prazo no sentimento político dos brasileiros.
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