“Estávamos despidas, uma diante da outra”: um novo capítulo do nosso folhetim erótico

Atualizado em 22 de fevereiro de 2016 às 12:29
Por Milo Manara
Por Milo Manara

No último capítulo, Vicente, um escritor que se propôs a anotar todos os passos da minha vida sexual e transformá-la em um livro, começou a acompanhar-me na primeira experiência verdadeiramente exibicionista da minha vida.

Permanecia num canto, com sua máquina de escrever e aquela eterna e indisfarçável expressão tarada, enquanto eu me divertia no ofício inédito de protagonista erótica. Eu gostara daquilo. Era como poder me ver com outros olhos. Era como ser descoberta e, ao mesmo tempo, descobrir aquele homem – uma verdadeira incógnita – e suas intenções.

A ideia inicial era que Marcos – a amizade mais colorida que eu já tivera na vida – também participasse de todas as histórias. Mas nós não queremos um livro heteronormativo.
Ana, a minha melhor amiga (conheça-a aqui: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/as-aventuras-de-uma-jovem-advogada-o-dcm-comeca-a-publicar-um-folhetim-por-anonima/) é louca o suficiente para aceitar que um estranho viole a sua intimidade. E eu sabia disso.

Ele já estava lá quando ela chegou. Pedi que colocasse fones de ouvidos e nos deixasse conversar em paz. Nossa intimidade não-sexual nos pertence irrenunciavelmente. Ele obedeceu.

Falamos sobre música, cinema, bebidas, viagens e sexo. Éramos tão absolutamente íntimas. Estávamos despidas, uma diante da outra, mesmo que nossos vestidos ainda estivessem sobre os nossos corpos.

Ele permanecia com os olhos grudados na tela, tão calado e tão indiferente que foi fácil ignorá-lo. Para nós, tudo precisava ser natural. Deitei-me no tapete, malemolente, e passei a observá-la. Meus olhos percorriam todo o seu corpo enquanto o meu era invadido por um turbilhão de sensações: ternura, intimidade e um desejo incontrolável de senti-la por inteiro.

Os pés delicados eram seguidos por pernas limpas e alvíssimas sob o vestido estampado, as mãos se mexiam no ritmo da música que tocava, os olhos miúdos e expressivos parados num ponto fixo da sala. Eu daria tudo o que eu tivesse por aquele pensamento.

– O que foi?

(Pausa)

– Só tô olhando.

– Olha mais de perto

Não a beijei. Ela era muito para dividir comigo um momento clichê qualquer. Eu queria fazer tantas coisas que beijá-la parecia óbvio demais.

Senti o cheiro floral que vinha do seu pescoço. Era quase parte da sua identidade. Vi de relance seus olhos se fechando enquanto ela desfrutava o arrepio que aquele contato proporcionara. Ela correspondeu, pousando uma das mãos no meu queixo e olhando-me fixamente nos olhos.

– Linda.

Nos beijamos enquanto sentíamos nossos corpos unidos e compassados. Sentia seus seios nos meus, sua pele tão macia quanto eu jamais sentira, sua língua ora feroz, ora delicada e seu hálito etílico.

Tirei o vestido como quem se despe para um artista. Ela me olhou por alguns segundos, sorriu maliciosamente e aproximou-se. Chupava e acariciava meus peitos enquanto eu cuidava de despi-la devagar.

Percorri sua virilha com a língua e já podia sentir o gosto de prazer que emana daquela mulher. Ela é uma fonte inesgotável de sensualidade maciça. Antes mesmo que eu chegasse até o clitoris, ela se mexia compassadamente e cerrava os olhos cheios de vontade. Quase pude sentir o seu orgasmo, o ápice da feminilidade escorrendo pela minha garganta.

Notei que suas pernas bambeavam quando ela sorriu, ofegante, e me olhou nos olhos novamente. Me dei conta que esquecera da presença de Vicente, que nos olhava atentamente com as mãos longe do teclado. Naquela noite, nem ele e nem o romance que escreveria pareciam importantes.

– Pode colocar os fones novamente?

Nos vestimos e continuamos a conversa quase tão prazerosa quanto o corpo dela, até sermos interrompidas pelo toque insistente do interfone. Abri a porta. Era Marcos, e parecia indisfarçavelmente furioso.

[continua]