“Estávamos lá enquanto cidadãos”, diz líder de protesto de corintianos contra fascistas na Paulista

Atualizado em 10 de maio de 2020 às 18:08
Corinthianos levantaram o braço direito, em gesto eternizado por Sócrates – Foto: Reprodução/Twitter

Publicado originalmente no Meu Timão

Um grupo de cerca de 70 torcedores do Corinthians resolveu se reunir na tarde do sábado na Avenida Paulista para se manifestar a favor da democracia e contra um grupo que pedia, entre outras coisas, fechamento do STF e reinstauração do AI-5 no Brasil. No fim, apenas os corinthianos marcaram presença e registraram o ato.

Formado em sua maioria por moradores da zona norte de São Paulo e com integrantes da Gaviões da Fiel, o grupo ressalta que não representa a torcida como instituição. “Estávamos lá enquanto cidadãos brasileiros que avaliam o momento e têm a história da Democracia Corinthiana como diretriz. É o mesmo grupo que tem se reunido para entregar marmitex e cestas básicas”, disse Danilo Pássaro, motorista de aplicativo e estudante de história, um dos líderes da manifestação.

Os corinthianos se reuniram por volta das 13h30 (de Brasília) no local em que flyers diziam que seria realizada uma manifestação pró-governo federal. Os manifestantes bolsonaristas tinham como alvos pontos como o STF, o isolamento social imposto em São Paulo e o congresso nacional, poupando o presidente Jair Bolsonaro de qualquer crítica.

“Já há dias estávamos revoltados com alguns acontecimentos, reivindicações pedindo ditadura, exaltação à tortura, agressão a profissionais da saúde, repórter e minimização das nossas mortes. Muitos são da região norte e aqui na Brasilândia é o bairro com maior registro de óbitos por coronavírus, pessoas próximas de nós estão morrendo e revolta ver isso se tornar piada”, contou Danilo, que tem 27 anos.

“Um camarada teve a ideia de fazer uma contraposição e ir no mesmo local e horário pra mostrar que não aceitaremos calados que continuem praticando o acima mencionado. Eu tive a ideia de fazer a faixa “Somos Democracia” pra deixar bem claro nosso objetivo pois não queremos que fosse transformado num ato de interesse político-partidario”, continuou.

De acordo com o corinthiano, porém, não houve qualquer embate com os militantes do outro ato. Apenas cerca de dez pessoas apareceram para a outra manifestação, mas logo se dispersaram ao ver que não havia engajamento.

A ação chamou a atenção na internet e já houve contatos de torcedores de outros times interessados em participar de atos futuros. A reunião do último sábado, porém, foi 100% corinthiana.

Isolamento social

Danilo ainda explicou que todos os torcedores têm ciência da necessidade de isolamento social para combater a pandemia da Covid-19, mas consideraram o momento político como o um risco que pedia uma manifestação presencial.

“Avaliamos que o país passa por uma escalada autoritária, o governo mostra o interesse de implementar sua ditadura. Mesmo conscientes da importância do isolamento social, consideramos que hoje impedir o avanço de uma nova ditadura faz parte dos serviços essenciais”, detalhou Danilo.

O profissional ainda ressaltou que não houve abordagem policial ou repressão pela aglomeração. As críticas só apareceram nas redes sociais. “Quando assumimos risco para fazer ações solidárias é lindo. Mas, quando assumimos o risco para impedir uma manifestação em favor da ditadura, é irresponsabilidade”, ironizou, antes de finalizar.

“A realidade é que o governo não garantiu nenhuma política de proteção social e está fazendo a gente furar a quarentena pelo sufocamento financeiro”, concluiu..