“Este é o último aviso antes de cercarmos o palácio”

Atualizado em 4 de dezembro de 2012 às 21:02

O alto risco das revoltas no Egito por causa do decreto do presidente Mohammed Morsi

Os protestos no Egito

A tensão cresceu no Cairo após manifestantes romperem as linhas policiais para acessar o Palácio Presidencial do Egito.

“Este é o último aviso antes de cercarmos o palácio”, disse Mahmoud Hashim, um estudante de 21 anos da cidade de Suez, no Mar Vermelho. “Queremos que os decretos presidenciais sejam cancelados.”

A raiva crescente é contra o presidente Mohammed Morsi, que num decreto de 22 de novembro se outorgou novos poderes, e contra o projeto de uma constituição aprovado pela Assembleia de maioria islâmica, que será submetida a um referendo popular marcado para 15 de dezembro. Pelo menos dez pessoas já foram feridas nos confrontos.

Desde o decreto de 22 de novembro, centenas de milhares de pessoas já protestaram na Praça Tahrir, no Cairo. Manifestantes islâmicos governistas se reuniram em número semelhante. O projeto de Constituição foi aprovado só depois de liberais, cristãos e outros abandonarem a assembleia em protesto.

A Anistia Internacional considerou o projeto da constituição “muito aquém” de proteger os direitos humanos, os direitos das mulheres, as liberdades de expressão e religiosa, entre outras acusações.

No domingo, a Corte Suprema do Egito suspendeu os trabalhos por tempo indeterminado, depois de um grupo de apoiadores de Morsi negar o acesso a juízes do tribunal. Na terça-feira, ao menos oito jornais diários não circularam e protesto contra restrições à liberdade de imprensa.

“O resultado dessa reviravolta é difícil de prever, mas é quase certo que endurecerá permanentemente as divisões fluidas que estão no centro da vida política do Egito. Uma transição para um sistema democrático estável fica muito mais difícil”, escreveu Issandr El Emrani no jornal O Nacional.

El Emrani continua:

“O triste espetáculo de uma assembleia inteiramente muçulmana, de meia-idade, quase exclusivamente masculina, correndo para aprovar artigos e fazer alterações de último minuto em uma maratona de 17 horas, não sinaliza nada de bom para a forma como os muçulmanos acham que o país deve ser governado. Também não ajuda o fato de que o presidente e a Irmandade Muçulmana desencadearam ataques virulentos contra o Judiciário, incluindo o envio de manifestantes para intimidar juízes – como fizeram no domingo, quando o Supremo Tribunal Constitucional foi criado para se pronunciar sobre a legalidade da Assembleia. Isso obrigou o Tribunal a adiar seu veredicto potencialmente explosivo, que pode ter testado o poder do decreto de 22 de novembro do presidente Morsi”.

 

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