Estou me tornando anticlerical. Por Afrânio Silva Jardim

Atualizado em 10 de fevereiro de 2019 às 20:27
A foto de Fábio Motta das funcionárias da Arquidiocese do RJ

Publicado originalmente na fanpage de Facebook do autor

POR AFRÂNIO SILVA JARDIM, professor de Direito da UERJ

EU CONFESSO: LAMENTAVELMENTE, ESTOU ME TORNANDO UM ANTICLERICAL !!!

A nefasta influência das religiões na vida política de nosso país e, por conseguinte, na vida cotidiana de todos os brasileiros, está me tornando um obstinado crítico de todas as religiões.

A toda evidência, no atual momento, a perniciosa influência a que me refiro é a das igrejas cristãs, principalmente, as evangélicas. Em muitas delas, os chamados “pastores” não têm instrução ou cultura para impor condutas morais a seus “fieis”. Sequer sabem interpretar corretamente as metáforas e simbolismos que se encontram na bíblia.

Evidentemente, cada um pode acreditar no que desejar. A diversidade de crença e pensamento podem até ser democráticos. Entretanto, não é nada democrático os religiosos quererem impor, através de bancada de políticos ou do próprio Pode Executivo, suas crenças e seus valores morais, muitos deles de origem medieval.

Como tudo que é normativo, assim como o próprio Direito, todas as religiões são conservadoras e machistas, pois suas regras de moral foram constituídas no longínquo passado, sem o avanço atual da ciência e sem a natural modificação dos costumes.

Por mais que desejem os religiosos, a sociedade não ficará jamais estagnada; ela avança dialeticamente, queiramos ou não.

Entretanto, a resistência dos religiosos a tais mudanças, embora se apresente inútil, acaba por infelicitar muitas pessoas, que são “castradas” em seus sonhos, perseguidas socialmente, discriminadas e violentadas na formação de seu caráter e personalidade.

De há muito o nosso Estado está separado das religiões. O nosso Estado é laico. O Estado teocrático seria um absurdo retrocesso em nossa imatura civilização.

A “politização das religiões” vai levar a uma indesejável intolerância entre elas e o combate a todas pelos não religiosos. Jesus não apoiaria esta indevida intromissão na vida política de um país.

Não misturem política com religião. Deixem os deuses para os templos religiosos e para o íntimo de cada um de seus crentes. Deixem-nos em paz, sem crenças ou com quaisquer crenças.

Normalmente, o teísta é um autoritário, pois deseja e luta para que todos tenham a sua mesma crença. Esquecem eles que existem inúmeros outros deuses nas mais diversas civilizações que habitam o nosso planeta. Assim, acreditando em um só deus, eles são ateus em relação aos demais deuses cultuados por outras pessoas.

Chega de hipocrisias e de pregar a “doutrina” de Cristo, se comportando de forma tão gritante contra ela.

Basta dizer que os evangélicos apoiaram o atual Presidente da República que, por várias vezes, declarou ser favorável à tortura.

Jesus foi torturado e morto por se opor aos valores reinantes em sua época, impostos pela dominação romana. Ao menos, esperamos que os cristãos sejam cristãos. Como Cristo, os cristãos devem ser tolerantes e não devem tentar “sufocar” a sociedade com suas crenças inverossímeis.