Estrela de “festival” do MBL defende terrorista, a volta da monarquia e a escravidão

Atualizado em 2 de dezembro de 2025 às 18:33
Curtis Yarvin no evento do MBL

A primeira edição do festival do MBL aconteceu no sábado (29/11) em antigos galpões industriais, agora transformados em um espaço de 12 mil metros quadrados na Zona Leste de São Paulo. De acordo com os organizadores, o evento, que contou com painéis, debates e sessões de autógrafos, seguido de uma after party, reuniu 3,6 mil pessoas de diversas partes do Brasil.

Com uma estética abertamente fascista, cheia de estandartes no palco, um deles com a Loba Romana (!), e gente brandindo uma espada no palco, o encontro teve como estrela Curtis Yarvin, uma espécie de Olavo de Carvalho da turma.

“Fiquei muito impressionado com o partido Missão, que bom que o povo brasileiro está acordando”, disse Yarvin em sua palestra.

Yarvin é um ex-engenheiro de software que se tornou blogueiro sob o pseudônimo Mencius Moldbug. É mais um “filósofo” do Vale do Silício que acredita que a democracia está acabando e que somente um monarca moderno ou uma espécie de CEO poderá salvar a América. O bilionário Peter Thiel, um xarope pretensioso, financiador de Trump e guru de Elon Musk, é seu fã.  O vice-presidente americano JD Vance é outro.

Ele chamou Trump “Lincoln dos tempos modernos”. É fundador do movimento Dark Enlightenment (Iluminismo Sombrio) e surgiu no cenário político global como uma figura influente no neo-reacionarismo (NRx), que prega a volta a uma ordem de classe, dominada por uma elite tecnocrática. É necessário um governo forte, autoritário, para enfrentar os problemas do mundo moderno.

Yarvin, que começou a divulgar suas “ideias” em 2007 através do blog Unqualified Reservations, defende um governo de “executivos e chatbots”, em que a autoridade é centralizada e as massas, subjugadas. Suas propostas incluem desmantelar o estado social e a economia, transformando a política em um jogo de poder entre oligarquias, em vez de ser uma estrutura democrática voltada para o bem-estar da população.

Tem aversão a “burocratas corruptos”, que considera os responsáveis pela falência da sociedade, e propõe o que chama de “cesarismo autocrático”. Em um post de 2009, afirmou que algumas pessoas são “geneticamente mais aptas à escravidão”, e que características como lealdade e paciência são mais adequadas para aqueles que ocupam a posição de escravos.

“Nem todos os seres humanos nascem iguais, é claro, e o caráter e a inteligência inatos de alguns são mais adequados à liderança do que à escravidão”, escreveu. Esse tipo de retórica, profundamente racista e divisiva, é central para a ideologia de Yarvin e seus seguidores, que buscam justificar a segregação e as estruturas de poder elitistas com base em uma interpretação distorcida da história e da biologia.

Em 2011, no dia seguinte ao ataque terrorista de extrema-direita de Anders Behring Breivik, que matou 69 pessoas, muitas delas adolescentes, em um acampamento de verão na Noruega, Yarvin escreveu: “Se você vai transformar a Noruega em algo novo, precisa que a atual classe dominante da Noruega se una a você e o siga. Ou, pelo menos, você precisará dos filhos deles.” Ele elogiou Breivik por ter como alvo o grupo certo (“comunistas, não muçulmanos”), mas condenou seus métodos: “Estupro é coisa de fraco. Sedução é para os fortes. Não destrua o acampamento jovem — recrute o acampamento jovem.”

Chegou a comparar Breivik a Nelson Mandela, alegando que ambos eram “terroristas”. Seus pupilos do MBL foram seduzidos por uma promessa autoritária. Estão de olho nos restos humanos — e dos nem tão humanos assim — do bolsonarismo.

O lado bom é que nenhum deles faz questão de esconder nada. Só não vale se surpreender depois.

Kiko Nogueira
Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.