Estudantes voltam às ruas para contradizer Alckmin. Por Mauro Donato

Atualizado em 16 de agosto de 2018 às 15:17

“Se fosse prioridade como ele diz, porque estamos aqui?”, disse Raíra Alana da E. E. Plínio Negrão, na Vila Cruzeiro.

A aluna e mais outros milhares de estudantes ocuparam as ruas nesta quinta-feira (16) para protestarem contra a reforma do ensino médio, contra a aprovação automática, a favor da bolsa-auxílio e contra o teto de gastos imposto pelo governo Temer.

Estudantes fecham a Avenida Brigadeiro Luís Antônio, em São Paulo. FOTOS: MAURO DONATO

A manifestação nem foi uma reação espontânea a Geraldo Alckmin, pois já estava agendada há algum tempo. Mas as declarações feitas na véspera pelo ex-governador durante sabatina do Movimento Todos pela Educação (assim como no debate da Band), certamente colocaram mais lenha na fogueira.

Assistir Alckmin repetir que, para ele, “educação é prioridade” soa como uma bofetada no rosto de estudantes e professores. Foi no seu longevo período à frente do Estado que mais de 200 escolas foram ocupadas contra a reorganização da rede estadual e a calamidade das condições estruturais das escolas. As edificações estão caindo aos pedaços.

Com Alckmin, professores fizeram a mais longa greve da história (139 dias), não foram atendidos e passaram a ter que catar papelão na rua para complementar salário. E as medidas tomadas por ele contra quem reclamasse resumiram-se a tocar a polícia em cima. Fossem senhoras docentes (e decentes), fossem pré-adolescentes franzinos. Era tiro, porrada e bomba.

O governador tucano teve a desfaçatez de continuar praticando o fechamento de turmas após ter negociado com os secundaristas pelo fim das ocupações; viu um escandaloso crime de desvio e superfaturamento de merendas acontecer em seu ninho; facilitou o quanto pôde no preparo do terreno para privatizar o ensino público.

“Somos a prova que para eles a educação é um gasto e deveria ser visto como investimento”, prosseguiu Raíra. Ela tem toda razão. Um ensino público precário provoca a rejeição e migração para as escolas particulares. O resultado é que o segmento vira uma indústria bilionária e grandes empresas do setor de ensino – dessas com ações em Bolsa – que já são gigantes no mercado de ensino superior privado (a Kroton acaba se transformar na maior empresa mundial de ensino superior, com 1,6 milhão de alunos), agora avançam feito urubus sobre a educação básica. Tanta concentração assim não tem como ser benéfica.

O ato dos estudantes terminou em frente à Alesp (Assembleia Legislativa), onde tentaram se fazer ouvir por Marco Vinholi, líder do PSDB, deputado que vem obstruindo o programa de bolsa que favoreceria 100 mil jovens. Se o tucano estava lá, de lá não saiu para conversar com ninguém. E entrar na ‘casa do povo’ é algo que a polícia não permite.

Policiais militares conversam durante manifestação dos estudantes

A Alesp, como várias vezes já declarou o deputado Carlos Giannazi, tornou-se um puxadinho do PSDB. Lá, 6 de cada 10 leis criadas são de coisas irrelevantes como batizar ou trocar nomes de ruas e praças. Só pouco mais de 10% dos projetos são relacionados a saúde e educação.

Que a manifestação de hoje sirva como alerta a todos os candidatos, pois o discurso que educação é prioridade é comum a todos, recorrente e nunca posto em prática. 55% das crianças entre 8 e 9 anos são analfabetas (dados da Avaliação Nacional da Alfabetização 2016). Não existe prioridade número 763. Ou é a primeira, ou não é.