
Pesquisas de universidades dos Estados Unidos, do Reino Unido e da Ásia mapeiam padrões de uso excessivo do celular e registram que desbloqueios frequentes podem estar associados a falhas de atenção e memória. Um exemplo comum é de usuários que verificam o aparelho repetidamente ao longo de minutos, criando um volume diário elevado de consultas ao dispositivo. Com informações da Folha de S.Paulo.
Estudos das universidades de Nottingham Trent, no Reino Unido, e Keimyung, na Coreia do Sul, identificaram que checar o celular cerca de 110 vezes ao dia pode indicar risco de uso problemático.
Em pesquisas conduzidas durante oito anos com adolescentes e millennials, o professor Larry Rosen, da Universidade Estadual da Califórnia Dominguez Hills, constatou que participantes desbloqueavam seus smartphones entre 50 e mais de 100 vezes por dia. As plataformas Android e iOS exibem essa estatística, chamada de “pickups”.
De acordo com a psiquiatra Anna Lembke, da Universidade Stanford, dispositivos móveis acionam sistemas de recompensa do cérebro semelhantes aos ativados por substâncias químicas. Ela afirma que celulares e mídias digitais produzem ciclos de checagens repetitivas e desconforto quando o aparelho não está acessível.
Levantamento da YouGov realizado em maio mostra que oito em cada dez americanos deixam o celular no quarto ao dormir, geralmente ao lado da cama. A mesma pesquisa registrou que usuários tendem a subestimar o número diário de desbloqueios, estimando cerca de dez, embora dados objetivos indiquem volumes muito maiores.
Pesquisadores da Universidade de Administração de Singapura verificaram que interrupções sucessivas para checar o celular se relacionam a lapsos de atenção e memória. Os estudos apontam que a frequência de verificações tem maior peso que o tempo total de tela. A alternância constante entre tarefas reduz a capacidade de manter foco em atividades únicas, conforme alertado pelo cientista da computação Gerald M. Weinberg em trabalhos anteriores sobre multitarefa.

A YouGov registrou que mais da metade dos americanos verifica o celular várias vezes durante atividades sociais. No ambiente de trabalho, em reuniões de 30 minutos, uma em cada quatro pessoas relatou checar o aparelho ao menos uma vez. Pesquisas conduzidas por Gloria Mark, da Universidade da Califórnia em Irvine, indicam que, após uma interrupção, o tempo para retomar o foco pode passar de 25 minutos.
Grande parte dos usuários recebe notificações ao longo do dia, como mensagens, e-mails e alertas de redes sociais. Rosen afirma que a exposição contínua a estímulos digitais se relaciona à liberação de substâncias como o cortisol, que provoca sensação de urgência para novas verificações.
Pesquisadores da Universidade de Heidelberg, na Alemanha, observaram que, após 72 horas sem uso do smartphone, padrões cerebrais registrados apresentaram características semelhantes às identificadas em quadros de abstinência. Estudos sugerem que pequenas pausas no uso do aparelho ajudam a reorganizar circuitos neuronais.
Especialistas recomendam estratégias para reduzir hábitos prejudiciais, como desativar notificações, limitar aplicativos, ativar a escala de cinza e desligar o aparelho entre usos. Também sugerem deixar o celular em casa em algumas ocasiões e estabelecer pausas tecnológicas definidas pelo próprio usuário.