
Um estudo publicado na revista Jama Health Forum aponta crescimento significativo das mortes entre pessoas de 18 a 64 anos nos Estados Unidos ao longo da última década. A pesquisa analisou dados do Medicare e dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças referentes a todos os estados americanos e Washington, mostrando que, entre 2012 e 2022, a taxa de mortalidade precoce passou de 243 para 309 mortes por 100 mil habitantes, uma alta de 27%.
O levantamento, conduzido pela pesquisadora Irene Papanicolas, da Universidade Brown, destaca que o aumento atinge pessoas que ainda não acessam o Medicare, programa federal destinado a maiores de 65 anos, mesmo após contribuírem durante décadas de trabalho.
A análise também mostra que, dentro do recorte populacional, a taxa entre pessoas negras cresceu em proporção ainda maior e alcançou 427 mortes por 100 mil habitantes em 2022, enquanto o índice entre pessoas brancas ficou em 316.
Os dados reunidos pela pesquisadora mostram que a pandemia de Covid contribuiu para parte do aumento, mas não explica sozinha o salto na mortalidade. O estudo evidencia diferenças marcantes entre regiões dos Estados Unidos: Virgínia Ocidental, Novo México e Mississipi registraram as maiores taxas de morte precoce, enquanto Massachusetts e Minnesota apresentaram os menores índices.
O levantamento ainda se apoia em outras duas pesquisas conduzidas por Irene Papanicolas. A primeira aponta aumento das mortes evitáveis e tratáveis entre 2009 e 2019, incluindo doenças cardíacas e respiratórias crônicas, em contraste com a redução desses óbitos em 34 países de alta renda.

O segundo relatório, publicado em abril no New England Journal of Medicine, mostra que americanos ricos têm 40% menos risco de morte que americanos pobres, embora vivam menos que europeus de renda equivalente. A pesquisadora afirma que esses números reforçam o peso de fatores como políticas públicas, condições de vida e acesso desigual a serviços básicos.
Especialistas citados no estudo, como Thomas LaVeist, reitor da Escola de Saúde Pública e Medicina Tropical da Universidade Tulane, apontam que longevidade depende de genética, comportamentos individuais e fatores sociais, incluindo exposição a poluição e estresse contínuo.
Ele destaca que a ausência de uma rede de proteção social sólida nos Estados Unidos ocorre em um momento de cortes federais em programas voltados à redução de desigualdades e de aumento no custo de vida. Relatórios adicionais mostram que doenças crônicas relacionadas ao estresse constante seguem como principais causas de morte entre pessoas de 35 a 64 anos, superando overdoses, homicídios, suicídios e acidentes de trânsito somados.
Esse cenário implica mais consultas médicas, maior demanda por tratamentos e afastamentos do trabalho em um período da vida em que grande parte da população estaria em plena atividade econômica e social, segundo especialistas citados nas pesquisas.