Estudo mostra que exemplo presidencial foi mortal na Covid-19. Por Helena Chagas

Atualizado em 13 de outubro de 2020 às 18:29
Bolsonaro tosse

Publicado originalmente no site Os Divergentes

POR HELENA CHAGAS

Quase ao mesmo tempo em que o Brasil alcança 150 mil mortos – possivelmente o maior morticínio em massa de nossa história –, começam a aparecer dados comprovando aquilo que intuíamos: a atitude negacionista e irresponsável de Jair Bolsonaro em relação à Covid-19 pode ter, sim, contribuído para a propagação da doença e aumentado o número de mortos. Estudo da UFRJ em parceria com o IRD, trazido hoje pela Folha, identificou o que os pesquisadores estão chamando de “efeito Bolsonaro”, apontando uma correlação entre a preferência pelo presidente Jair Bolsonaro nas eleições de 2018 e a expansão da pandemia em cidades do país.

O levantamento abrange os 5.570 municípios do país e cruzou os dados eleitorais com os dados de crescimento e de mortes da Covid, concluindo que a pandemia causou mais estragos nos municípios mais favoráveis a Bolsonaro. Para cada 10 pontos percentuais a mais de votos para Bolsonaro, há um acréscimo de 11% no número de casos e de 12% no número de mortos.

Novas pesquisas terão que ser feitas para comprovar e aferir de forma mais completa esses resultados,  por si só apavorantes. Mostram que o exemplo do presidente da República, saindo sem máscara, participando de eventos em aglomerações e chamando a Covid-19 de “gripezinha”, teve o pior efeito possível para a população, sobretudo entre seus simpatizantes. Quem gosta de Bolsonaro, acredita nele e segue seu exemplo. Pelo estudo, muita gente pegou Covid assim.

Essa correlação entre o comportamento irresponsável de Bolsonaro e o aumento no número de doentes e mortos não foi detectada ainda pelo radar do grande público, e talvez nunca  venha a ser, ocultada pelas brumas do auxílio emergencial. Até agora, o presidente – que ontem se aglomerou na praia do Guarujá – teve lucro político com a pandemia, sobretudo por causa do pagamento do auxílio. Mas a política e os humores da opinião pública são extremamente voláteis – e não é impossível que, mais adiante, com outros estudos divulgados, e com o fim do auxílio, Jair Bolsonaro comece a pagar um preço.