Estudo revela que Brasil tem mais de 300 grupos como o que atacou o Porta dos Fundos em atividade. Por Donato

Atualizado em 27 de dezembro de 2019 às 11:14
Foto: Reprodução

Com três bandeiras no tosco cenário à la ISIS e um texto amalucado que mais parece um compilado de clichês de fontes variadas, um grupo chamado “Comando Insurgência Popular Nacionalista da Grande Família Integralista Brasileira” (fala sério se isso não parece título de filme de pornochanchada?) foi o primeiro a assumir o atentado contra a produtora do Porta dos Fundos.

Um outro grupo, a Frente Integralista Brasileira, emitiu nota dizendo não ter ligação alguma com o caso.

Ainda que desconexos e não integrados, esses grupos são muitos e já deveriam estar no radar das autoridades.

Segundo um levantamento da antropóloga Adriana Dias, pesquisadora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) especialista em estudos sobre a ascensão da extrema-direita, há 334 células neonazistas ativas no país hoje.

Embora o Sul e Sudeste sejam as regiões com maior concentração (apenas São Paulo possui 99 dessas ‘células’), a pesquisadora também encontrou a existência de grupos em cidades do Centro Oeste e Nordeste, como Fortaleza, Feira de Santana e João Pessoa.

A pesquisa identificou mais de 6.500 endereços eletrônicos dessas organizações. O estudo ainda é inédito e seus dados serão publicados em livro.

São supremacistas, separatistas, hitleristas negacionistas do holocausto. Divulgam mensagens e manifestos que transbordam xenofobia, homofobia, racismo. Alguns locais são réplicas de sedes da Ku Klux Klan.

Essas características são padrão. De resto, eles pouco se falam.

Segundo a antropóloga, esses grupos praticamente não se comunicam – exceto os grupos maiores – e não têm uma corrente única.

“Eles leem autores que, pelo mundo, brigam um com o outro”, disse ela em entrevista ao Universa.

Ser multifacetado é tão perigoso (ou até mais) quanto um grupo encorpado e numeroso.

Bastam 3 ou 4 desses extremistas para se realizar um ataque como o feito contra a produtora do programa humorístico.

Bastam 3 ou 4 desses intolerantes para que um ‘homossexual terrível’ seja espancado até a morte.

Bastam 3 ou 4 desses imbecis para que uma pessoa negra, ou nordestina, ou imigrante, seja perseguida e agredida.

Vemos isso ocorrer todos os dias e o combate a essas atrocidades parece não receber a devida atenção justamente por ninguém detectar essa onda como algo unificado e organizado.

A polícia Civil do Rio, mesmo sem ter identificado os autores do atentado até agora, descartou classificar o ato na produtora do Porta dos Fundos como terrorismo. Por que?

O Integralismo tem inspiração fascista. Foi um movimento criado por Plínio Salgado seguindo os mesmos conceitos do nazismo e do fascismo durante os anos 30. Não pode ser menosprezado.

Nacionalista, autoritário, tradicionalista e fundado em preceitos religiosos, possui saudação idêntica a adotada pelos nazistas.

São esses cidadãos de bem que estão tocando o terror em universidades, arrancando faixas antifascistas e propagando ameaças a alunos e professores.

No mês passado um grupo de camisas verdes fez uma manifestação no centro de São Paulo tranquilamente, acintosamente.

Tudo em alinhamento à retórica bolsonarista que está estimulando a violência em níveis preocupantes. O país registrou 5 armas por hora para pessoas física durante este ano.

Se nada for feito, algo semelhante ao ocorrido na França contra jornalistas do Charlie Hebdo pode estar sendo gestado.

Daí não terá graça nenhuma.