Esvaziar o ministério de Marina Silva é erro de Lula. Por Luis Felipe Miguel

Atualizado em 25 de maio de 2023 às 21:07
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Marina Silva, ministra do Meio Ambiente. Foto: Reprodução

A Câmara bagunçou a reforma administrativa para fortalecer pastas do Centrão – e principais vítimas foram os ministérios do Meio Ambiente e dos Povos Indígenas, que perderam competências essenciais.

Preocupado só em preservar a Casa Civil, o governo deixou passar.

Nunca simpatizei com Marina Silva. Mas ela se credenciou nas eleições de 2022, pelo empenho na campanha, e tem um importante papel simbólico no compromisso com a pauta ambiental – que não só é uma pauta fundamental em si mesma como representa um diferencial do novo governo na arena internacional, importante para parcerias com outros países.

A Agência Nacional de Águas e o Cadastro Ambiental Rural foram retirados do Ministério do Meio Ambiente. De quebra, o Ministério dos Povos Indígenas perdeu a competência sobre a demarcação das terras indígenas.

O governo orientou voto favorável, entendendo que eram derrotas “menores”, que o essencial tinha sido preservado (sobretudo em relação à Casa Civil) e a prioridade era aprovar a MP.

O ministro das Minas e Energia, o filobolsonarista Alexandre Silveira, atacou Marina dizendo que “o embaixador do meio ambiente do Brasil é o presidente Lula. A gente não precisa de outro”. Isto não é verdade.

Assim como não é verdade o que falou o líder do MDB, deputado Isnaldo Bulhões Jr., que a questão ambiental é “política de Estado”, logo não importa em que ministério as competências estejam alocadas.

Os ministérios funcionam, muitas vezes, em defesa de interesses setoriais dentro do próprio Poder Executivo. E os chefes dos ministérios são escolhidos em meio a uma composição de forças muito diversas. É óbvio que a organização das competências tem impacto. Se não, por que a Câmara se esforçaria para alterá-la?

Ao permitir o esvaziamento do Ministério do Meio Ambiente e da figura de Marina Silva, Lula comete um gravíssimo erro.

Ele sabota políticas importantíssimas, que seu governo tem o compromisso político e moral de avançar, relativas à preservação ambiental (e também à dignidade dos povos indígenas).

Ele compromete a imagem internacional de seu governo. Embora no contraste com Bolsonaro não tenha como perder, o registro ambiental dos governos petistas anteriores não é bom. A repercussão da reforma administrativa será péssima – e uma eventual demissão de Marina, pior ainda.

E ele permite que o Centrão, em troca de uma lealdade duvidosa no Congresso, tome conta do governo.

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Luís Felipe Miguel
Professor de ciência política da Universidade de Brasília (UnB) e coordenador do Demodê - Grupo de Pesquisa sobre Democracia e Desigualdades.