
O pesquisador Urandir Fernandes de Oliveira, conhecido por ser o interlocutor do personagem ET Bilu e por divulgar a teoria da cidade perdida de Ratanabá, manteve um acordo com a gestão de Tarcísio de Freitas (Republicanos) em São Paulo, conforme informações da Folha de S.Paulo.
O acordo, firmado em junho de 2024 pela empresa Dakila Pesquisas e a Secretaria de Turismo, tinha como objetivo explorar o Caminho de Peabiru, rota indígena pré-colombiana que ligava São Vicente, no litoral paulista, até os Andes. Seis meses depois, em dezembro, a parceria foi cancelada por ausência de resultados.
O Caminho de Peabiru é reconhecido oficialmente como uma rede de trilhas usadas por povos indígenas para comércio e trocas culturais. Mas a empresa de Urandir, a Dakila Pesquisas, defende que a rota teria ligação com Ratanabá, suposta cidade fundada por extraterrestres há 450 milhões de anos.
Em seu site, a entidade afirma que a exploração da região faz parte de um “ambicioso projeto com objetivo de mostrar todas as interligações, principalmente do litoral brasileiro até o coração da Amazônia/Ratanabá”.
Atuação no estado de São Paulo
Mesmo após o cancelamento do acordo, a Dakila visitou prefeituras como Cananeia e São Vicente. A gestão municipal de São Vicente afirmou que recebeu o grupo em março e confirmou junto ao governo estadual a existência do convênio, embora ele já tivesse sido encerrado.
“Foi durante a visita e após a repercussão que tivemos conhecimento aprofundado sobre as críticas e controvérsias envolvendo a Dakila Pesquisas, incluindo o posicionamento da Sociedade de Arqueologia Brasileira”, disse a secretária de Turismo, Juliana Santana.
“Não compactuamos com qualquer forma de pseudociência.” Já Cananeia informou que não houve apoio financeiro e que o relatório técnico prometido nunca foi entregue.
Apoio do secretário de Turismo
Na assinatura do protocolo, o secretário de Turismo, Roberto Lucena, elogiou Urandir publicamente. “Você que é meu irmão, que é meu amigo, muito obrigado pela sua amizade.”
Ele também destacou que o projeto visava transformar o caminho em rota turística: “É uma rota turística pouco conhecida, mas, a partir desta assinatura, o estado, por meio da Secretaria de Turismo, mapeará as informações culturais e científicas a fim de criar a oferta turística e uma rota de aventura e contemplação”.
Lucena já havia se encontrado com Urandir em outras ocasiões, como na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) e em reunião com Mario Frias, em 2020.
Críticas e investigação
Para especialistas em arqueologia, o protocolo foi uma forma de dar legitimidade a teorias sem base científica. “A ciência arqueológica refuta em absoluto essa tese”, afirmou o arqueólogo Artur Barcelos, que lembra que a narrativa envolve até um povo extraterrestre chamado Muril como fundador de Ratanabá.
A deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP) questionou a parceria e acionou o Ministério Público, mas a Promotoria arquivou o caso, já que não houve repasse financeiro do estado à empresa. A Sociedade de Arqueologia Brasileira também rejeita a atuação da Dakila.
Reação de Urandir
Após reportagens da Folha e do Globo, Urandir publicou um vídeo em que acusa jornais de perseguição. “Deixem Dakila em paz, quieto, se não nós vamos realmente lançar algumas sujeiradas de vocês aí, tá?”, disse. Ele encerrou citando a frase que tornou o ET Bilu um fenômeno em 2010: “Busquem conhecimento.”
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