Dorothy Parker (1893 – 1967) foi, em uma palavra, brilhante — como escritora, como poetisa e como jornalista. Famosa por sua irreverência, por seu senso de humor e também por seu desequilíbrio emocional, Parker foi uma das personalidades literárias mais talentosas de seu tempo. Para qualquer aspirante a escritor (ou melhor dizendo, para qualquer pessoa capaz de extrair prazer com a literatura), sugiro a leitura de seus contos. Sua escrita, gloriosamente irônica e refinada, é uma verdadeira aula. Aceitam uma sugestão? Comecem com “You were perfectly fine” ou com “Lady with a lamp”, que traduzem perfeitamente o estilo da escritora.
Boa tarde, Mrs. Parker. Como vai?
Não muito bem. Bebi um pouco noite passada, e uma ressaca é idêntica às vinhas da ira.
Oh. O que você bebeu?
Martini.
É sua bebida favorita?
Adoro beber um martini. Dois, no máximo. Depois de três, entro debaixo da mesa.
E depois de quatro?
Depois de quatro, entro debaixo do anfitrião.
Você é realmente espirituosa!
Ao acordar, escovo os dentes e afio a língua.
… E experiente, ao que tudo indica.
A experiência pode ser adquirida a partir de quatro coisas: a preguiça, a tristeza, a amizade e a inimizade.
Hmmm…
Há também coisas que devem ser evitadas: a curiosidade, o amor, a insegurança e as sardas. E há algumas coisas que são simplesmente inconquistáveis. Champanhe o suficiente é uma delas.
Dizem que a curiosidade é uma boa qualidade para escritores.
Sim, mas é perigosa.
Como assim?
O tédio pode ser curado a partir da curiosidade, mas a curiosidade não tem cura.
Você sempre quis ser escritora?
Eu sempre quis ser rica.
Hmmm…
E ser uma boa escritora. Essas duas coisas podem vir juntas, e isso muitas vezes acontece. Mas se for pedir demais, ser rica é melhor. Até porque odeio escrever. Amo ter escrito.
O dinheiro é realmente tão importante?
Dizem que o dinheiro não compra saúde, mas eu ficaria satisfeita com uma cadeira de rodas cravejada de diamantes. Tome conta dos luxos e as necessidades vão cuidar de si mesmas.
Eu também sempre quis ser escritora.
O segundo maior favor que poderei lhe fazer será presenteá-la com uma cópia do livro The Elements of Style.
E o primeiro?
Matá-la enquanto ainda é feliz.
Por falar em morte, Mrs. Parker, você já tentou se matar algumas vezes.
Das minhas tentativas de suicídio, tirei uma lição muito preciosa: navalhas machucam, rios são úmidos, ácidos mancham a pele, comprimidos causam cãibra, armas são ilegais, cordas falham, gases cheiram mal… É mais fácil viver.
Você teve uma depressão especialmente violenta depois de abortar o bebê que esperava do jornalista e dramaturgo Charles MacArthur…
Serviu-me muito bem por ter colocados todos os meus ovos em um bastardo.
O que você procura em um homem?
Eu só quero três coisas em um homem: beleza, falta de escrúpulos e estupidez.
A beleza é realmente tão importante?
A beleza pode até ser superficial, mas a feiúra chega a atingir os ossos.
E a inteligência? Ela não é essencial em uma pessoa?
Na juventude, sempre ouvi várias histórias de como os homens preferem mulheres espertas a mulheres bonitas. Devo dizer que jamais presenciei uma única cena que comprovasse tal teoria.
Como funciona a sua vida amorosa?
Eu faço o estilo ame-me ou deixe-me; ou, como de costume, ambas as coisas.
Oh!
Algumas mulheres falam dezoito línguas e não conseguem dizer “não” em nenhuma delas…
O que você diria a uma moça prestes a iniciar sua vida amorosa?
Nunca inicie uma conversa abrindo seu coração. Use palavras serenas. Não expresse os seus sentimentos. Sua fala e sua aparência devem ser velozes e rasas, tal como um riacho. Seja simples e glacial como uma gota de neve, e delicada e adorável como uma florzinha de cerejeira. Nunca diga a ninguém que está sofrendo. Se expressar o medo que sente de perder aquele que ama, você nunca o conquistará. Se for sábia e jamais ficar deprimida, vai conseguir conquistá-lo. Não fale a sério e não seja sincera, e então seu desejo será realizado. E se, fazendo isso, conseguir ser feliz, será a primeira entre todas nós.
E a um rapaz?
Príncipe ou plebeu, tenor ou barítono, pintor, encanador ou vagal – fique de boca fechada… Somente os poetas tem o direito de fazer amor e sair contando por aí.
Algo a acrescentar?
Eu sei que isso pode parecer chocante, mas em toda a história, pela qual passaram bilhões e bilhões de indivíduos, nenhum deles teve um final feliz.