“Eu gosto de explodir o estereótipo do anão”: uma conversa com Peter Dinklage, de “Game of Thrones”

Atualizado em 16 de maio de 2014 às 17:55

 

Quando Peter Dinklage ganhou um Emmy de melhor ator em 2011, foi um reconhecimento profissional que superou todos os seus sonhos de atuação. Na pele de Tyrion Lannister, a ovelha negra incompreendida mas resistente da família mais poderosa de “Game of Thrones”, Dinklage é hoje um dos maiores atores da TV.

“Eu gosto desse papel, tanto pela qualidade da trama quanto pelo fato de ele explodir totalmente o estereótipo do anão”, diz. “Tyrion é um ser humano plenamente realizado e uma figura central na história. Ele é um mulherengo, um bebedor, e alguém que ainda tem uma bússola moral maior do que a maioria dos outros personagens da série. É o tipo que eu estive procurando por toda a minha vida”.

Aos 43 anos, nascido e criado em Nova Jersey, Peter Dinklage aprendeu a viver com sua baixa estatura sem ter de suportar muito sofrimento social. Seu pai vendedor de seguros e a mãe professora de música o enviaram para uma escola católica onde seu amor pela atuação foi estimulado por um padre excêntrico, estudante sério do cinema de autor, que lhe apresentou filmes de diretores como Cassavetes, Truffaut, Fellini e Antonioni.

Aos vinte e poucos anos, começou a trabalhar no teatro de Nova York e se tornou amigo de um círculo de atores e diretores que incluía Steve Buscemi e Thomas McCarthy, o diretor que o lançou “O Agente da Estação”. Esse filme de baixo orçamento sobre um homem em busca da solidão em uma estação de trem abandonada em New Jersey lhe rendeu um prêmio em 2004 do Screen Actors Guild.

Dinklage vive em Nova York com sua mulher, a diretora de teatro Erica Schmidt, sua filha de 2 anos e um mestiço de dinamarquês e labrador.

Você já se acostumou com a ideia de ser uma estrela? 

Não, mas é mais interessante do que ser desconhecido e desempregado. “Game of Thrones” superou as expectativas de todos, inclusive a minha. A HBO assumiu um risco enorme com esta série porque nada nesse sentido havia sido feito antes na TV e nessa escala. Eu adorei a idéia, mas não havia nenhuma maneira de prever como o público iria reagir . A resposta tem sido ótima e eu dou muito crédito para o texto, que não tentou minimizar a violência ou o sexo.

Quanto de sua própria personalidade está presente em Tyrion?

Tyrion é uma versão mais arrogante de mim mesmo — e eu posso ser muito arrogante. Eu tenho um senso de humor que adaptei à maneira como Tyrion usa sua sagacidade para sobreviver. Ele entretém as pessoas com sua inteligência porque é uma forma de superar as dificuldades em um mundo muito violento.

O que mudou na sua vida com a imensa popularidade do seriado?

Nos primeiros anos eu não percebi muita diferença, mas nos últimos meses tem havido uma incrível quantidade de atenção. Fiz capas de revistas (Rolling Stone e Esquire), além de participar de vários talk shows.

Eu sou uma pessoa discreta e não sei lidar com tapetes vermelhos e assédio de paparazzi. Amo a minha privacidade, mas, obviamente, o tipo de sucesso que Games of Thrones alcançou tornou isso impossível.

“Game of Thrones” é uma forma de validação pessoal, em algum sentido?

O importante, para mim, foi que que o aspecto físico do personagem não definia sua personalidade. Claro que o tamanho é importante, mas não é esse o aspecto determinante. O público é atraído por ele, mas não por causa de sua altura. Ele não é um bobo da corte.

Na maior parte dos trabalhos que eu realizei ao longo dos anos, quase cada página e cada linha do roteiro eram um lembrete constante da minha estatura. Mas isso já estava presente no meu dia a dia.

Você foi criado por pais que insistiram em criar uma imagem positiva de você mesmo, certo?

Nós realmente não falávamos disso o tempo todo… Eles aceitaram a forma como eu era e eu, obviamente, tive de aceitar quem eu era. Eu não foi tratado de forma diferente eu não acho que teria sido se tivesse uma altura normal. Meus pais nunca se comportaram como se eu fosse estranho. Me ensinaram a pensar em mim como único, já que eu não me parecia com todo mundo. E depois de um tempo você para de pensar em si mesmo como uma criatura esquisita e só quer lidar normalmente com as pessoas.

Mas você teve de lidar com o seu quinhão de insultos e preconceitos…

O ensino médio não era um lugar muito agradável porque eu era basicamente um invasor em uma escola com um monte de atletas e jogadores de lacrosse. Eu usava roupas pretas e fumava cigarros enrolado por mim mesmo e, basicamente, não tinha muitos amigos. Quando fui para a faculdade, me tornei muito mais sociável e me sentia melhor sobre mim mesmo, apesar de fumar muita maconha e dormir pouco — ou talvez por isso.

Qual era sua atitude quando encontrava certos papéis “adequados” a você? 

Eu preferia não aceitar. Eu era arrogante quando se tratava de peças muito estereotipadas. Não queria nada que fosse só por causa do meu tamanho, sem nada realmente interessante sobre o personagem.

Mas não culpo ninguém por aceitar isso. No final do dia, nenhum de nós está feliz com nosso trabalho o tempo todo.

“Não” é uma palavra muito forte em nosso negócio, muito difícil de usar no início da carreira. Mas acho que ela me ajudou a encontrar os papeis de que eu gostava.