
O pastor bolsonarista Davi Nicoletti, investigado por usar a Igreja Renovar para lavar dinheiro, se apresenta nas redes sociais como conferencista internacional, palestrante educacional e empresarial, além de ser autor dos livros “Mais que Vencedor” e “Empreendedor de Fé”. Casado com Cristiane Krever Nicoletti, o casal fundou em 2011 a Igreja Recomeçar.
Responsável por frases preconceituosas e contra o presidente Lula (PT), ele já posou ao lado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), reforçando sua presença entre conservadores evangélicos. Recentemente, viralizou em um vídeo após dizer: “Eu odeio pobre. E eu vou dizer que Jesus nunca foi pobre. E se te falaram isso, mentiram […] dar esmola é patrocinar a escravidão”.
🚨 Gospel l “Eu odeio pobre”
Pregação de pastor divide opiniões entre fiéis
O líder religioso ainda aproveitou o momento para criticar o presidente Lula pic.twitter.com/ybFwDDF9U2
— Notícias Paralelas (@NP__Oficial) June 26, 2025
Na esfera judicial, o pastor e sua esposa são alvo de pelo menos três investigações. O primeiro caso envolve uma ex-empregada doméstica, paraguaia, que trabalhava informalmente para o casal em Foz do Iguaçu. A mulher sofreu uma queda em 9 de janeiro deste ano, fraturando a patela e o cotovelo.
A denúncia afirma que, em vez de levá-la ao hospital, os Nicoletti a deixaram na casa da irmã. Com jornada de 14 horas diárias e salário de R$ 1.500, abaixo do piso regional de R$ 2.057,59, a trabalhadora ajuizou ação trabalhista por vínculo empregatício, horas extras, mais R$ 69.836,41 em verbas e danos morais.
Documentos hospitalares do período entre 9 e 17 de janeiro confirmam internação, cirurgia e exames, sem qualquer custeio por parte dos empregadores, segundo a ação. O processo, transitado em julgado em 13 de maio, evidenciou a denúncia apresentada ao MPT em 23 de janeiro e a reclamação trabalhista em 18 de fevereiro.

Outro inquérito da Polícia Civil de São Paulo apura suspeitas de lavagem de dinheiro via criptomoedas. Um relatório do Coaf revelou que a conta da Igreja Recomeçar recebeu mais de R$ 4 milhões entre dezembro de 2018 e dezembro de 2019, supostamente vinculados ao grupo de pirâmide financeira MDX Capital Miner Digital LTDA.
O documento sustenta que as transferências “não possuíam justificativas econômicas claras” e estariam associadas à lavagem de valores advindos de fraude. A MDX responde a dezenas de processos e investigações, inclusive no Ceará, onde vítimas relatam prejuízos de até R$ 200 mil.
A defesa contestou com força. Em nota, afirma que o inquérito envolvendo a MDX já foi arquivado por falta de provas e que nenhum crime antecedente foi comprovado, conforme entendimento do Ministério Público.
Sobre os R$ 4 milhões, Nicoletti alega que a igreja, com seis unidades ativas em 2019, recolheu menos de R$ 1,5 milhão em ofertas, e que eventuais doações de associados ligados à MDX foram voluntárias, sem vínculos comerciais: “O Pastor Davi Nicoletti não é, nem nunca foi, sócio, gestor ou beneficiário da MDX Capital Miner Digital”.