Eu também abraço a Dilma. Por Nathali Macedo

Atualizado em 20 de abril de 2016 às 13:02
                                                 O abraço coletivo em Dilma, em Brasília

Tenho cultivado uma profunda solidariedade à Dilma.

Ela — a mulher, mãe e avó — faz com que chegue ao meu coração, todas as vezes em que a vejo, uma onda de força, coragem e sororidade.

Não deve ser fácil governar com um bando de traidores, ignorantes e golpistas no Congresso, ser xingada de sapa gorda, ver desconhecidos confabulando sobre sua vida sexual (Dilma: todas nós passamos por isso). Não deve ter sido fácil ver a própria foto estampada, de pernas abertas, em tantos carros quando do aumento do combustível. Creio que não seja mesmo fácil assumir corajosamente a postura de mulher poderosa em um país misógino.

Do mesmo modo, não é fácil para nós, mulheres brasileiras. Não é fácil quando sentimos medo de andar sozinhas, quando somos julgadas pelas roupas que usamos, reconhecidas apenas pela beleza (ou criticadas pela falta dela) por mais que nos esforcemos para sermos mais do que um corpo.

Nós compartilhamos do mesmo sentimento dessa Dilma mulher. Do mesmo cansaço, da mesma descrença e da mesma resistência.

Talvez por isso, a vontade de abraçar essa mulher que se mantém de pé diante de tantas pancadas (assim como nós) me inquiete tanto.

É o mesmo sentimento que me ocorre todas as vezes em que vejo uma semelhante compartilhando a própria dor depois de um assédio ou de um relacionamento abusivo. A vontade de dizer que estamos juntas e continuaremos juntas, por mais que isso incomode aos nossos algozes.

Esse sentimento, que o feminismo moderno tem chamado de sororidade, me acalantou e me devolveu a esperança quando assisti ao abraçaço no Palácio do Planalto. Quando tive a certeza ainda mais concreta de que as mulheres brasileiras sabem exatamente onde estão pisando: nós sabemos que o ódio que Dilma tem enfrentado é o mesmo que enfrentamos todos os dias. E sabemos, principalmente, que não podemos e não vamos esmurecer diante disso, assim como essa mulher jamais cedeu, nem quando foi torturada na ditadura, nem quando foi exposta e ridicularizada pela mídia, nem quando precisou ler “Tchau, querida” em plaquinhas golpistas no Congresso.

Isso não é sobre política, embora, inevitavelmente, deva sê-lo em algum momento. Isso é sobre união feminina, essa união que cresce tanto quanto incomoda.

Dilma, receba essas flores e receba o nosso amor, a nossa força e nosso incentivo. As mulheres brasileiras estão com você. Fica, querida.