EUA estão “embarcando em uma furada” ao defender Bolsonaro, diz Celso Amorim

Atualizado em 17 de setembro de 2025 às 18:35
Celso Amorim, assessor-chefe da Assessoria Especial da Presidência da República. Foto: reprodução

O embaixador Celso Amorim, assessor-chefe da Assessoria Especial da Presidência da República, minimizou a possibilidade de novas sanções do governo estadunidense contra o Brasil após a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo o diplomata, em entrevista nesta quarta-feira (17), a administração de Donald Trump estaria cometendo um erro grave ao se colocar na defesa de um réu condenado pela mais alta instância da Justiça brasileira.

“Quem tinha que estar preocupado era o governo americano de estar embarcando em uma furada. É uma furada embarcar na defesa de um ex-presidente que foi condenado pela mais alta corte no Brasil”, afirmou Amorim durante cerimônia na Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói, onde recebeu o título de Doutor Honoris Causa.

Principal assessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na área internacional, Amorim aproveitou a solenidade para reforçar a defesa do ministro Alexandre de Moraes, alvo recente de sanções impostas pelos Estados Unidos por meio da Lei Magnitsky, além de constantes ataques.

Para o embaixador, a independência do Judiciário brasileiro é inegociável. “A justiça independente é absolutamente fundamental para que um país seja democrático. Essa é a nossa posição”, destacou.

O diplomata evitou comentar diretamente o atraso na concessão de vistos para a delegação brasileira que participará da 80ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), marcada para a próxima semana em Nova York. Questionado sobre o conteúdo do discurso que Lula fará no evento, Amorim foi sucinto: “Não tem \[como adiantar] porque ele muda tudo que a gente faz.”

Em sua fala, o embaixador também criticou o uso crescente de medidas econômicas unilaterais como forma de pressão política. Segundo ele, “as regras multilaterais do comércio têm sido totalmente ignoradas” e a “coerção econômica vem sendo utilizada sem disfarce como instrumento de pressão política”.

As críticas foram direcionadas, em especial, ao Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos (USTR, na sigla em inglês). “Agora vemos o representante de comércio de Washington referir-se às ‘vagas aspirações’ de instituições multilaterais em oposição aos interesses nacionais de seu país”, declarou.

Amorim avaliou ainda o cenário global, classificando-o como um dos mais instáveis das últimas décadas. Ele lembrou que o mundo enfrenta simultaneamente duas guerras — na Faixa de Gaza e na Ucrânia — além do acirramento de rivalidades históricas entre grandes potências. “A ordem internacional como conhecíamos acabou. É preciso reconstruí-la em novas bases”, disse.

Augusto de Sousa
Augusto de Sousa, 31 anos. É formado em jornalismo e atua como repórter do DCM desde de 2023. Andreense, apaixonado por futebol, frequentador assíduo de estádios e tem sempre um trocadilho de qualidade duvidosa na ponta da língua.