EUA querem minerais brasileiros e pressionam por acordo antes do tarifaço

Atualizado em 24 de julho de 2025 às 16:27
Mina de extração de lítio. Foto: Divulgação

O governo dos Estados Unidos demonstrou interesse em firmar acordos com o Brasil para a aquisição de minerais considerados críticos e estratégicos, como lítio, nióbio, cobre, silício e terras raras. A proposta foi apresentada na quarta-feira (23) por Gabriel Escobar, encarregado de negócios da embaixada americana em Brasília, durante reunião com representantes do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram).

Escobar é atualmente o principal representante dos EUA no Brasil, já que a embaixada segue sem embaixador nomeado. De acordo com Raul Jungmann, presidente do Ibram, o governo brasileiro foi enfático ao informar que qualquer decisão sobre esse tipo de negociação deve partir da União, e não diretamente das empresas do setor mineral.

“Foi demonstrado o interesse dos EUA nos chamados minerais críticos e estratégicos, mas deixamos claro que cabe ao governo decidir”, afirmou Jungmann, que repassou o teor da reunião ao vice-presidente Geraldo Alckmin.

Alckmin lidera as tratativas do governo brasileiro com os Estados Unidos para tentar evitar a aplicação de uma tarifa de 50% sobre produtos nacionais, prevista para entrar em vigor em 1º de agosto por decisão do presidente Donald Trump.

Nesse contexto, o eventual fornecimento desses minerais entra no radar como moeda de negociação, embora autoridades brasileiras alertem que essa oferta não pode ocorrer sem contrapartidas. A embaixada americana confirmou a participação de Escobar no encontro, mas informou que não divulga o conteúdo de reuniões privadas.

Gabriel Escobar, responsável pelos negócios da embaixada dos Estados Unidos. Foto: Divulgação

A aproximação em torno dos minerais ocorre em meio a um cenário de tensão diplomática, alimentado pelas medidas protecionistas do governo Trump. Entre os 51 minerais de interesse estratégico dos EUA, o Brasil se destaca pelas reservas expressivas de nióbio, utilizado na indústria siderúrgica e em tecnologias de ponta, e lítio, essencial para baterias e veículos elétricos.

Apesar do interesse de Washington, especialistas apontam que os recursos minerais brasileiros são considerados bens da União, explorados por empresas por meio de concessões. Nesse modelo, qualquer pacto de fornecimento em larga escala precisaria da autorização direta do Executivo.

A questão se tornou ainda mais sensível diante da estratégia agressiva adotada por Trump, que já ameaçou tomar a Groenlândia da Dinamarca e pressionou países como a Ucrânia a ceder direitos de exploração mineral. Em 2024, o Brasil exportou cerca de 400 milhões de toneladas de minérios, o que gerou receita de aproximadamente US$ 43,4 bilhões (cerca de R$ 250 bilhões).

As principais nações compradoras foram a China (24% do total) e a Alemanha (12%). No mesmo ano, o país importou 400 mil toneladas desses minerais, com custo de US$ 4,39 bilhões (R$ 25,3 bilhões), mantendo saldo comercial positivo no setor.

O encontro entre o Ibram e o representante americano serviu também como ponto de partida para uma iniciativa diplomática do setor privado. Uma comitiva empresarial brasileira está sendo formada para viajar aos Estados Unidos entre setembro e outubro, com o objetivo de dialogar com importadores e influenciar o governo Trump por meio da pressão econômica de seus próprios parceiros comerciais.