
Os Estados Unidos concederam visto de entrada ao ministro da Saúde, Alexandre Padilha, para sua participação em eventos internacionais marcados para setembro. A autorização chega após um mês de espera e elimina o risco de uma nova crise diplomática entre os governos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Donald Trump, dos EUA. O pedido havia sido protocolado pelo Itamaraty em 19 de outubro.
A negativa seria mais um fator de atrito na relação bilateral, já desgastada pelas críticas da Casa Branca ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Trump tem reiterado que Bolsonaro sofre uma “perseguição política” e, em meio a esse discurso, aplicou sanções e suspendeu vistos de autoridades brasileiras. No mês passado, a esposa e a filha de 10 anos de Padilha tiveram vistos revogados, numa ação que ampliou a pressão sobre o governo Lula.
Padilha, cujo visto anterior venceu em 2024, foi incluído na lista de restrições por sua atuação na criação do programa Mais Médicos, que levou médicos cubanos a áreas carentes do Brasil. Na ocasião, ficou proibido de solicitar uma nova autorização, o que poderia inviabilizar sua presença em compromissos oficiais.
Agora, com a concessão, o ministro poderá representar o país em duas agendas centrais nos Estados Unidos: a reunião da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), em Washington, no dia 29, e a Assembleia Geral da ONU, em Nova York, a partir de 23 de setembro, onde participará de um encontro de alto nível sobre doenças crônicas.

Além de Padilha, outros ministros também tiveram a situação resolvida. Fernando Haddad (Fazenda) e Ricardo Lewandowski (Justiça) receberam vistos para compromissos oficiais, embora o de Lewandowski tenha sido suspenso em caráter comum antes de ser restituído para agendas diplomáticas.
Segundo Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, fontes do Itamaraty afirmaram que a resolução dos casos foi tratada como sinal de que os EUA não pretendem elevar ainda mais a tensão neste momento, apesar das declarações de Trump e de membros de seu governo.
Mesmo com a autorização, Padilha declarou não ter pressa em confirmar presença nos eventos. Em entrevista nesta semana, afirmou que sua prioridade é acompanhar a tramitação da medida provisória “Agora Tem Especialistas” no Congresso.
“Na condição de ministro da Saúde, fui convidado a participar da sessão de ministros da Saúde que acontecerá na Assembleia Geral da ONU. Também recebi convite do conselho da OPAS, cuja reunião será logo depois, em Washington. Ainda não decidi se participarei, pois estou acompanhando a votação da medida provisória ‘Agora Tem Especialistas’ no Congresso Nacional. A votação ocorreu na semana passada e foi aprovada por unanimidade. Agora, estamos trabalhando para que seja votada esta semana no plenário da Câmara e, na semana seguinte, no Senado. Por enquanto, minha dedicação é totalmente a essa pauta”, disse.
O ministro acrescentou que não se incomodou com a possibilidade de veto: “Quanto à questão do visto \[para os EUA], não estou nem ai. Vocês [jornalistas] estão mais preocupados com o visto do que eu. Essa preocupação normalmente surge para quem deseja ir aos EUA; eu não quero. Só fica preocupado quem quer ir pra lá fazer lobby de traição à pátria como alguns estão fazendo”, afirmou, numa referência ao deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP).
Padilha disse ainda que já comunicou Lula de que sua participação nos compromissos internacionais dependerá do andamento no Congresso.
“Não é meu interesse. Estou muito focado na votação do Congresso Nacional. Tenho convite para a Assembleia da ONU nos dias 24 e 25, e também para integrar a comitiva do presidente a partir de domingo. Já informei ao presidente que minha decisão dependerá da conclusão da votação aqui no Congresso. Não seria necessário ir com a comitiva desde domingo, mas ainda não tomei uma decisão”, concluiu.