Muita gente de boa-fé ainda se ilude ou interpreta errado o que está acontecendo. Por isso, é preciso explicar com clareza. Desde o início do segundo mandato de Trump, os Estados Unidos decidiram pôr fim à globalização, agora vista como nociva ao próprio império. Sob a mentira da “segurança nacional”, instituíram uma legislação de exceção que sustenta uma ditadura interna. A partir dela, procuram reordenar o mundo segundo seus interesses, mobilizando o aparato imperial — militar, financeiro, comercial e digital, por meio das big techs e das redes sociais.
A ponta de lança é a defesa cínica da “liberdade de expressão”: usada para difundir o ideário de extrema-direita e legitimar ditaduras em nome da democracia, na esperança de instalar governos-satélites em toda parte. Já não há órgãos multilaterais nem direito internacional: restam apenas a força e a coerção.
O que está em jogo é a soberania brasileira, princípio sustentado juridicamente desde a Independência, há mais de duzentos anos. O que o Supremo Tribunal Federal e o próprio governo têm buscado fazer é simplesmente preservar essa ordem jurídica basilar, inscrita na Constituição de 1988, que condensa uma longa trajetória constitucional iniciada em 1822. E, no entanto, a extrema-direita procura apresentar essa defesa da legalidade democrática como se fosse “comunismo”.
Pode-se discutir os meios de resistir, mas a natureza da escolha não se altera: trata-se de optar entre a independência e a democracia, de um lado, e a subordinação a um projeto autoritário estrangeiro, de outro. Como brasileiro e democrata, não há que pensar duas vezes.