
Pelo menos 4% dos voos programados nos Estados Unidos serão cancelados nesta sexta-feira (7) por determinação do Departamento de Transportes, em meio à paralisação do governo federal, conhecida como “shutdown”. A medida afeta os 40 maiores aeroportos do país e deve provocar um dia de caos na aviação estadunidense. O número de cancelamentos pode chegar a 10% até 14 de novembro, caso o impasse no Congresso não seja resolvido.
A paralisação, que já entra em seu 38º dia, é a mais longa da história dos Estados Unidos. O shutdown ocorre quando o Congresso não aprova o orçamento federal dentro do prazo, impedindo o governo de financiar serviços públicos e pagar servidores.
No centro da crise está a disputa entre democratas e republicanos sobre a renovação de programas de assistência médica. O governo precisa de 60 votos no Senado para aprovar o orçamento, mas apenas 53 senadores são do partido do presidente Donald Trump.
A oposição condiciona o avanço do projeto à garantia de verbas para a saúde, o que o governo se recusa a aceitar. Nas redes sociais, perfis oficiais da Casa Branca afirmam que os democratas “escolheram o caos” e estão “prejudicando o país”.
Cancelamentos e atrasos em todo o país
De acordo com o secretário de Transportes, Sean Duffy, os cancelamentos começaram às 8h (horário de Brasília) desta sexta-feira. “Essa é uma medida de segurança necessária diante da falta de pessoal no controle aéreo”, afirmou. A estimativa é que até 1.800 voos sejam cancelados por dia, afetando cerca de 268 mil passageiros.
Segundo o site FlightAware, apenas na quinta-feira (6) foram registrados mais de 5.500 atrasos e 160 cancelamentos. Passageiros enfrentam longas filas em controles de segurança devido à ausência de agentes, que trabalham sem receber desde 1º de outubro. Muitos controladores já começaram a faltar ao serviço.

“Os funcionários estão buscando outros empregos para pagar as contas”, disse Nick Daniels, presidente da Associação Nacional de Controladores de Tráfego Aéreo, à Reuters. A situação, segundo ele, coloca em risco a segurança e a operação do sistema aéreo.
Entre os aeroportos afetados estão os de Nova York, Los Angeles, Chicago, Miami e Dallas — todos entre os mais movimentados do mundo.
Em entrevista à NBC News, Jeff Guzzetti, ex-investigador de acidentes aéreos da FAA, afirmou que a situação é inédita. “A comparação mais próxima seria o fechamento do espaço aéreo durante o 11 de setembro”, declarou.
De acordo com Guzzetti, a decisão de reduzir os voos é necessária para evitar acidentes, mas o impacto econômico será severo. O setor aéreo, que já enfrentava escassez de profissionais antes da paralisação, deve sofrer perdas bilionárias, especialmente às vésperas da temporada de férias e do feriado de Ação de Graças.
Por enquanto, as companhias aéreas informam que os voos internacionais continuam operando normalmente. Isso significa que as rotas entre o Brasil e os Estados Unidos, e vice-versa, não serão afetadas neste primeiro momento.
O Departamento de Transportes informou que acompanha a situação e poderá adotar novas medidas se o shutdown continuar. Tanto a pasta quanto a Agência de Aviação Civil (FAA, na sigla em inglês) são comandadas por diretores indicados por Donald Trump.
Enquanto o governo atribui a responsabilidade pela crise aos democratas, o vice-presidente J.D. Vance afirmou que o país vive uma “emergência nacional na aviação”. “O shutdown passou agora da farsa para a tragédia, e as consequências recaem sobre cada senador e deputado que se recusa a reabrir o governo”, escreveu nas redes sociais.
O Senado deve se reunir nesta sexta-feira para tentar aprovar o orçamento. Republicanos indicaram disposição em negociar cortes mais brandos e preservar empregos federais. Já os democratas insistem que a prioridade deve ser manter os programas de saúde e assistência às famílias de baixa renda.
“O debate começou sobre saúde, mas se transformou numa discussão sobre a trégua das confusões”, disse o senador democrata Tim Kaine, da Virgínia.