EUA: voto antecipado e polarização marcam campanha que chega ao fim nesta terça

Atualizado em 3 de novembro de 2020 às 11:48

Publicado no Brasil de Fato

A provável demora na contagem de votos que chegarem via correios é vista por analistas como oportunidade para Trump questionar o resultado – Foto: Saul Loeb/Angela Weiss/AFP

Nesta terça-feira (3), os Estados Unidos chegam à data oficial da eleição que decidirá se o republicano Donald Trump permanecerá na presidência por mais quatro anos ou se o democrata Joe Biden, que lidera as pesquisas de intenção de voto, ocupará a Casa Branca.

A intensa polarização da sociedade estadunidense, os profundos impactos da pandemia do novo coronavírus, o tom agressivo nos debates entre os candidatos e a alta adesão ao voto antecipado marcam a corrida eleitoral deste ano.

Há a expectativa de que o número total de votos ultrapasse a marca de 150 milhões pela primeira vez na história do país, onde o comparecimento às urnas não é obrigatório.

Segundo o Elections Project (Projeto Eleições) da Universidade da Flórida, cerca de 95 milhões de pessoas votaram antes do 3 de novembro. São mais de 60,4 milhões de votos pelo correio e mais de 34,5 milhões de votos presenciais.

Em nível nacional, as cédulas já depositadas nas urnas representam 68% dos votos totais do último pleito. No Havaí e no Texas, o número de votos antecipados já é maior que o da eleição anterior.

O processo eleitoral, no entanto, não acaba nesta terça. Os estados norte-americanos, gozando de sua autonomia, são livres para desenhar o cronograma que mais lhes pareça acertado para a contagem dos votos.

Dos 50 estados, 22 mais o Distrito de Columbia vão aceitar as cédulas que chegarem após 3 de novembro, desde que depositadas no correio antes disso, sendo que cada um delimitou um prazo próprio. Isso, provavelmente, vai gerar atrasos na divulgação do resultado final, que só deve acontecer na semana seguinte da eleição.

Na Pensilvânia e na Carolina do Norte, por exemplo, as cédulas por correio serão aceitas até 6 e 12 de novembro, respectivamente.

A narrativa de Trump

Desde o início da campanha eleitoral, o voto pelo correio tem sido amplamente criticado por Trump, ainda que o republicano já tenha votado nesta modalidade em outras ocasiões.

A demora para a contagem dos votos é lida por especialistas como uma oportunidade para que o presidente possa repetir o discurso de fraude eleitoral e recusar o resultado em caso de vitória de Biden.

Na média nacional das pesquisas de intenção de voto, o democrata tem vantagem de 8 pontos percentuais. Nos estados decisivos,  porém, a disputa segue acirrada.

Nos chamados swing states, estados em que o resultado não pode ser previsto por protagonizarem oscilações históricas nos pleitos eleitorais, Trump ainda está perto de Biden.

A vitória em estados como Flórida, Carolina do Norte e Arizona, por exemplo, seria suficiente para que Trump conseguisse os 270 votos de delegados no Colégio Eleitoral para alcançar o segundo mandato.

Por outro lado, a crise do coronavírus pesa para a candidatura do republicano, que segundo pesquisa Reuters/Ipsos, realizada em 27 e 29 de outubro, perde por cinco pontos na Pensilvânia e nove pontos em Michigan e Wisconsin, estados que foram cruciais para que ele vencesse Hillary Clinton em 2016. A democrata, no entanto, ganhou a maioria do voto popular.

Tensão 

No último domingo (1), alguns veículos da imprensa norte-americana como o Daily Mail e o The Daily Beast noticiaram que a equipe da campanha de Biden foi alvo de uma “emboscada” ao tentar se dirigir para um evento no Texas, um dos mais acirrados campos de disputa por votos do país.

Em direção a Austin, o ônibus da campanha de Biden teria sido bloqueado e cercado por manifestantes pró-Trump que hasteavam bandeiras em defesa do presidente e estariam armados. O evento foi cancelado diante da intimidação.

No início do mês de setembro, a cidade de Portland, Oregon, foi palco de conflitos violentos após manifestantes antirracistas e apoiadores de Trump se enfrentarem nas ruas.

Neste cenário conflituoso, o alto índice de armamento da população preocupa. De acordo com a pesquisa Small Arms Survey de 2018, os Estados Unidos têm mais armas do que habitantes. São 120,5 armas de fogo para cada 100 pessoas, a maior taxa do mundo.

A crise socioeconômica aprofundada pela pandemia deixou os ânimos dos eleitores e dos candidatos ainda mais acirrados. Segundo monitoramento da Universidade Johns Hopkins, são 231.011 vítimas fatais da covid-19 nos Estados Unidos, país mais atingido pelo coronavírus em nível global, com mais de 9,2 milhões de infecções.