“Europa não pode fechar os olhos à violência de Bolsonaro”, diz líder italiano contra acordo com Mercosul

Atualizado em 7 de março de 2021 às 14:45
Jair Bolsonaro em evento militar de 2019

O coordenador nacional do partido ecologista italiano cobrou nesta semana do novo governo italiano a não ratificação do tratado de livre-comércio entre a União Europeia e o Mercosul.

Em tribuna publicada no jornal La Repubblica, Angelo Bonelli denuncia a destruição da Amazônia e a impunidade dos assassinatos contra povos indígenas, assim como a responsabilidade do governo Bolsonaro na catástrofe sanitária e ambiental na região.

“O governo brasileiro, com uma decisão publicada no dia 25 de fevereiro, no Diário Oficial, autorizou o uso de 67 novos pesticidas na agricultura e isso acontece enquanto o Parlamento Europeu é convocado a ratificar o acordo de livre-comércio entre a Europa e países do Mercosul. Dos 67 pesticidas autorizados, a agência sanitária brasileira Anvisa retém que 10 são tóxicos para humanos, enquanto o instituto ambiental Ibama classifica 53 como perigosos para o meio ambiente”.

“É dramática a quantidade de compostos químicos pulverizados e que continuarão a sê-lo no bioma amazônico, favorecendo grandes produtores agrícolas e para preparar o solo à pecuária. Só em 2020, o desmatamento destruiu 21.000 quilômetros quadrados de território na Amazônia, dos quais 13.000 apenas no Brasil. Neste cenário dramático do ponto de vista ambiental, do qual Bolsonaro é em parte responsavel, foi publicado um decreto presidencial que regulariza a ocupação ilegal da terra na floresta e autoriza a atividade mineradora, a pesquisa de recursos hídricos nas terras indígenas e de exploração comercial de madeira”.

No jornal La Reppublica, o coordenador nacional do partido ecologista italiano fala em agravamento de destruição ambiental e sanitária na Amazônia com acordo de livre-comércio UE-Mercosul


“O nível de impunidade contra os indígenas, em violação à lei da parte da própria República Federativa Brasileira, atingiu níveis nunca antes alcançados”.

“Neste cenário, a eventual ratificação pelo Parlamento Europeu do tratado de livre-comércio UE-Mercosul representaria um apoio direto à destruição da Amazônia realizada no Brasil e no exterior”.

“A aprovação do tratado levará o Brasil ao aumento da produção de carne a baixo custo destinada à Europa e, com ele, o cultivo intensivo de soja transgênica e cana de açúcar para produzir etanol. Com qual consequência? Aumentará o desmatamento na Amazônia e o uso de pesticidas, que chegarão nos pratos dos cidadãos europeus, que a própria agência sanitária brasileira definiu como tóxicos à saúde humana”.

“A Europa não pode fechar os olhos à violência e aos assassinatos de índios e à destruição do bioma amazônico. Não podemos gritar contra a Amazônia em chamas se depois nos tornarmos responsáveis por um acordo comercial que levará à sua destruiçao”.

“A Europa que fala do acordo verde e transição ecológica não pode se tornar responsável por esse desastre na Amazônia, razão pela qual a ratificação do tratado com o Mercosul tem que ser interrompida e o novo governo italiano deve assumir uma posição clara nesta direção”.