
A aparição do evangélico Ismael Lopes, de 34 anos, na vigília convocada pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) colocou em evidência uma figura pouco conhecida do grande público, mas já ativa nos bastidores da articulação progressista dentro do universo religioso. Militante de esquerda e “comuna”, com presença constante nas redes sociais e participação em espaços institucionais do governo federal, Ismael foi o protagonista de uma confusão e agredido por bolsonaristas na noite de sábado (22).
Morador de Brasília, ele é conhecido como “Irmão Isma” no Instagram, rede em que acumula 35 mil seguidores e se apresenta como integrante do Conselho de Participação Social da Presidência da República.
Também é membro da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, movimento que tem histórico de diálogo com o governo Lula (PT) e que organiza eventos com a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, em diferentes estados. O rapaz já representou o coletivo em ao menos uma reunião do conselho, em dezembro de 2024.
Apesar da projeção crescente, Ismael não é pastor. Sua atuação é abertamente progressista, com forte crítica ao bolsonarismo e defesa de pautas associadas à esquerda.
nasce uma estrela
um homem se infiltrou na vigília pró bolso e falou no microfone na frente do flávio “seu pai abriu 700 mil covas”
— luscas (@luscas) November 22, 2025
Em seu Facebook, escolheu como imagem de capa uma ilustração vermelha com os rostos de pensadores comunistas, como Karl Marx, Vladimir Lênin, Joseph Stálin e Mao Tsé-Tung. Nas redes, usa o espaço para comentar política, discutir desigualdade e confrontar autoridades.
Em agosto, por exemplo, esteve em reunião com o então ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Márcio Macêdo, pasta responsável por articular o governo com movimentos sociais.
Ismael ganhou destaque recente ao criticar a megaoperação policial no Rio de Janeiro que deixou 122 mortes nos complexos da Penha e do Alemão. À época, chamou o governador Cláudio Castro de “assassino de Cristo”. Em outra publicação, defendeu que o “amor ao próximo só é possível com o ódio de classe”.
Ele escreveu: “Acreditamos que esse amor, como prática cristã, deve ser direcionado à todas e todos indiscriminadamente. Porém, como é possível amar e coadunar com um sistema que explora o trabalho e rouba a riqueza produzida pela trabalhadora e trabalhador? Deus ama a todos, mas o evangelho é para os pobres (Lucas 4:18) e para os ricos o arrependimento e o abandono de sua posição de explorador ou a danação, como canta Maria no magnificat (Lucas: 46 ao 56)”.
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A decisão de discursar na vigília bolsonarista, segundo ele, não foi articulada pela Frente de Evangélicos, mas foi comunicada previamente a lideranças do movimento. Para subir ao palco, Ismael se apresentou como representante de um movimento evangélico com presença em 19 estados. Seu discurso, no entanto, rompeu completamente com o clima do evento.
Ao ler o versículo “quem cava covas por elas será engolido”, Ismael afirmou que Jair Bolsonaro deveria ser condenado pelas ações durante a pandemia de Covid-19, que resultaram na morte de 700 mil pessoas.
Imediatamente após as falas, ele foi perseguido e agredido por simpatizantes do ex-presidente, recebendo socos e pontapés. A Polícia Militar interveio com spray de pimenta e o escoltou até um carro de aplicativo. Uma das mangas de sua camisa ficou rasgada. Aos policiais, admitiu que sabia dos riscos e que seu ato foi “consciente”.
O senador Flávio Bolsonaro (PL), organizador da vigília, pediu aos presentes que não agredissem o rapaz, mas foi ignorado.