Evangélicos tentam impor culto na UFRGS, são impedidos e ameaçam estudantes

Atualizado em 16 de agosto de 2025 às 7:36
Evangélicos tentam fazer culto na UFRGS

Na noite de terça-feira (12), a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Porto Alegre, foi alvo de uma tentativa de invasão do espaço acadêmico por grupos religiosos.

Integrantes de um certo movimento “Aviva Universitário”, liderado por um evangelista chamado Lucas Teodoro, insistiram em realizar um culto dentro do campus, mesmo após a reitoria negar autorização.

Impedidos de usar o anfiteatro da instituição, os organizadores acusaram a universidade de “perseguição religiosa” e se deslocaram para a entrada principal, onde montaram estrutura de som e iniciaram pregação em frente ao prédio.

Os seguranças precisaram intervir para impedir a ocupação do espaço público de forma irregular, o que gerou tensão entre os participantes e a administração.

Cerca de 500 pessoas se reuniram na rua em frente à UFRGS, cantando hinos, distribuindo panfletos e repetindo a retórica de “resgatar” a universidade de supostos pecados.

Teodoro afirmou que a UFRGS praticou discriminação religiosa ao negar espaço para o culto do “Aviva Universitário”, alegando que outras manifestações tiveram autorização para ocorrer dentro da instituição, como apresentações de religiões de matriz africana.

Ele destacou que, um dia após a realização do culto, ocorreria no Campus do Vale uma festa organizada por alunos e chamada “Inferninho da Letras”, com temática ligada a “referências satânicas”.

Na divulgação feita pelo perfil oficial da festa no Instagram, a organização escreveu: “Sim, querides, euzinho, o Inferninho, abro as cortinas do meu cabaré para vocês. Nada de moral e bons costumes, essa é uma festa para tu cometer teus piores (ou melhores) pecados e fazer tudo aquilo que vai negar na manhã seguinte. Se prepara para um palco de luxúria, bebida barata e olhares corrompidos”.

Evangélica ora na UFRGS

No vídeo, um participante fantasiado de satanás afirma: “O diabo vai estar solto”.

Em suas falas, os religiosos chegaram a afirmar que “o diabo investiu no meio acadêmico brasileiro” e que a missão do grupo seria “levantar um altar” dentro das universidades.

A insistência em impor práticas religiosas dentro de instituições de ensino superior revela o projeto político desses movimentos: ocupar espaços públicos com proselitismo e fragilizar a laicidade que garante a pluralidade do ambiente universitário.

A UFRGS, ao negar o uso de suas dependências, cumpriu seu dever de resguardar o caráter laico da educação pública. A medida não representa perseguição religiosa, mas proteção contra tentativas de converter salas e anfiteatros em púlpitos improvisados. Em uma universidade, prevalece o debate científico, o respeito à diversidade e a convivência democrática — não a imposição de uma fé única.

Davi Nogueira
Davi tem 25 anos, é editor e repórter do DCM, pesquisador do Datafolha e bacharel em sociologia pela FESPSP, além de guitarrista nas horas vagas.