
Na noite de terça-feira (12), a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Porto Alegre, foi alvo de uma tentativa de invasão do espaço acadêmico por grupos religiosos.
Integrantes de um certo movimento “Aviva Universitário”, liderado por um evangelista chamado Lucas Teodoro, insistiram em realizar um culto dentro do campus, mesmo após a reitoria negar autorização.
Impedidos de usar o anfiteatro da instituição, os organizadores acusaram a universidade de “perseguição religiosa” e se deslocaram para a entrada principal, onde montaram estrutura de som e iniciaram pregação em frente ao prédio.
Os seguranças precisaram intervir para impedir a ocupação do espaço público de forma irregular, o que gerou tensão entre os participantes e a administração.
Cerca de 500 pessoas se reuniram na rua em frente à UFRGS, cantando hinos, distribuindo panfletos e repetindo a retórica de “resgatar” a universidade de supostos pecados.
Teodoro afirmou que a UFRGS praticou discriminação religiosa ao negar espaço para o culto do “Aviva Universitário”, alegando que outras manifestações tiveram autorização para ocorrer dentro da instituição, como apresentações de religiões de matriz africana.
Ele destacou que, um dia após a realização do culto, ocorreria no Campus do Vale uma festa organizada por alunos e chamada “Inferninho da Letras”, com temática ligada a “referências satânicas”.
Na divulgação feita pelo perfil oficial da festa no Instagram, a organização escreveu: “Sim, querides, euzinho, o Inferninho, abro as cortinas do meu cabaré para vocês. Nada de moral e bons costumes, essa é uma festa para tu cometer teus piores (ou melhores) pecados e fazer tudo aquilo que vai negar na manhã seguinte. Se prepara para um palco de luxúria, bebida barata e olhares corrompidos”.

No vídeo, um participante fantasiado de satanás afirma: “O diabo vai estar solto”.
Em suas falas, os religiosos chegaram a afirmar que “o diabo investiu no meio acadêmico brasileiro” e que a missão do grupo seria “levantar um altar” dentro das universidades.
A insistência em impor práticas religiosas dentro de instituições de ensino superior revela o projeto político desses movimentos: ocupar espaços públicos com proselitismo e fragilizar a laicidade que garante a pluralidade do ambiente universitário.
A UFRGS, ao negar o uso de suas dependências, cumpriu seu dever de resguardar o caráter laico da educação pública. A medida não representa perseguição religiosa, mas proteção contra tentativas de converter salas e anfiteatros em púlpitos improvisados. Em uma universidade, prevalece o debate científico, o respeito à diversidade e a convivência democrática — não a imposição de uma fé única.
O líder do Aviva, Lucas Teodoro, enviou a seguinte nota ao DCM:
Em momento nenhum tentamos invadir a universidade e também não ameaçamos ninguém, desde o início tentamos um contato formal com a reitoria que foi negado duas vezes sem as devidas explicações.
Não passamos por cima de ninguém e também não tratamos ninguém com falta de respeito, pois isso vai totalmente contra os nossos princípios. Não somos um grupo militante político, carregamos só um nome, que é o nome de Jesus.
O nosso objetivo era apenas realizar uma reunião voluntária exercendo a nossa fé, junto com os alunos Cristãos da universidade, sem atrapalhar ninguém e também sem obrigar ninguém a isso. Não era para ser um “evento”
Decidimos então nos reunir do lado de fora da universidade, quando um grupo de guardas a mandado da reitoria nos retirou da porta da universidade e por fim fomos para a rotatória no meio da Rua.
O tempo inteiro durante a reunião repetimos várias vezes que não consideramos a reitoria como inimigos, mas pelo contrario, queremos ser amigos e ter liberdade de exercer a nossa fé dentro da universidade.