
As baixas temperaturas atingiram níveis extremos e incomuns na Patagônia e no Cone Sul da América Latina durante este inverno, com termômetros chegando a -15°C. Este fenômeno meteorológico extremo resultou em patos congelados em lagoas e ovelhas presas em pilhas de neve, exigindo que equipes do serviço militar local fornecessem alimentos para animais e moradores da região.
De acordo com o Serviço Meteorológico Nacional da Argentina (SNM), a área está sob alerta meteorológico amarelo devido ao risco de danos e interrupções nas atividades cotidianas.
Raúl Cordero, climatologista da Universidade de Santiago do Chile, explicou que esse fenômeno é incomum e que as temperaturas extremas podem persistir durante toda a temporada de inverno. Ele alertou que a onda de frio pode se repetir, pois é causada pela chegada de ar frio da Antártida.
“A fraqueza incomum do vórtice polar antártico aumenta a probabilidade de que as massas de ar polar escapem para as áreas habitadas do hemisfério sul”, afirmou Cordero, ressaltando que essas ondas de frio são mais prováveis devido à fraqueza do vórtice polar.
O impacto dessas ondas de frio no clima global é improvável, de acordo com Cordero. Ele acredita que as mudanças no clima global contribuem para um vórtice polar antártico fraco, resultando em ondas de frio no Cone Sul. “Embora essas baixas temperaturas tenham ocorrido em áreas populosas do Cone Sul, a atmosfera superior da Antártica teve as maiores temperaturas já registradas”, observou o cientista.

A Austrália e a Nova Zelândia também podem ser afetadas por ondas de frio extremo. Em 18 de julho de 2014, uma estação meteorológica em Queensland, na Austrália, registrou a noite mais fria em 120 anos. Apesar das imagens de animais congelados na Patagônia e das notícias da Austrália, Cordero disse que a onda de frio poderia ter um pequeno impacto positivo em um nível mais local.
Os campos de gelo da Patagônia, que cobrem mais de 10.000 quilômetros quadrados na fronteira entre o Chile e a Argentina, perdem, em média, entre 10 bilhões e 15 bilhões de toneladas de gelo todos os anos. “Embora os recentes períodos de frio não mudem essa tendência, eles podem pelo menos melhorar o balanço deste ano”, disse Cordero.
Pesquisas focadas no Hemisfério Norte indicam que as ondas de frio intenso podem ser causadas pelas mudanças climáticas. Um estudo de 2012 realizado pelo Centro Woodwell de Pesquisas Climáticas em Massachusetts, nos EUA, sugeriu que o aquecimento acelerado do Ártico afetou as correntes de ar que controlam o clima, aumentando a probabilidade de eventos extremos em latitudes médias.
Outro estudo publicado em 2021 pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) sugere que o aquecimento do Ártico contribuiu para invernos rigorosos nos EUA.
Ainda não há consenso entre os cientistas sobre a relação entre mudanças climáticas e ondas de frio. James Screen, professor de climatologia da Universidade de Exeter, acredita que os frios extremos são explicados pela variabilidade natural e não pelo aquecimento global.
“Na maior parte do mundo, os efeitos de aquecimento da mudança climática excederão qualquer eventual efeito de resfriamento decorrente da mudança dos padrões climáticos devido ao aquecimento do Ártico”, assegurou Screen.
Apesar do consenso científico sobre o aquecimento global, ondas de frio são usadas por negacionistas do clima para defender suas posições. “Eles estão confundindo variações de curto prazo no tempo com variações de longo prazo no clima. Um único frio extremo é um fenômeno climático”, explicou Screen.