Evo Morales reaparece e vota escondido em vilarejo da Bolívia durante segundo turno

Atualizado em 19 de outubro de 2025 às 16:32
Evo Morales vota em vilarejo em Cochabamba, na Bolívia. Foto: AFP

Mesmo foragido da polícia boliviana, o ex-presidente Evo Morales votou neste domingo (19) em um vilarejo da região de Chapare, em Cochabamba. Morales, que governou a Bolívia entre 2006 e 2019, vive sob a proteção de uma guarda indígena e é alvo de uma ordem de prisão por um caso de tráfico de menor de idade, acusação que ele nega. Impedido pela Justiça de concorrer novamente à Presidência, ele continua a atuar politicamente, incentivando o voto nulo e prometendo “batalhar nas ruas” caso a direita retome o poder.

O segundo turno das eleições bolivianas ocorre em meio à pior crise econômica em quatro décadas. Mais de 7,9 milhões de eleitores escolhem entre o ex-presidente Jorge Quiroga, de 65 anos, e o senador Rodrigo Paz, de 58. Ambos são de direita e apresentam propostas diferentes para recuperar a economia — Quiroga defende um plano de resgate com US$ 12 bilhões em empréstimos internacionais, enquanto Paz propõe uma agenda de descentralização e formalização do trabalho.

Pesquisas divulgadas antes da votação mostravam Quiroga à frente, com 44,9% das intenções de voto, contra 36,5% de Paz. Nenhum dos dois, porém, deve conquistar maioria no Parlamento, o que exigirá acordos políticos para governar. “Será necessário obter consensos para aplicar qualquer medida”, afirmou à AFP a socióloga María Teresa Zegada.

Morales, de fora da disputa, continua sendo uma figura central na política boliviana. No primeiro turno, sua campanha pelo voto nulo atingiu um recorde de 19,2%. Em agosto, ele declarou à AFP que não deixará o país, mesmo diante da perseguição judicial, e alertou que pode haver uma “crise social” caso a direita volte ao poder.

Os candidatos a presidente da Bolívia Rodrigo Paz (à esq.) e Jorge ‘Tuto’ Quiroga (à dir.) — Foto: AFP

O pleito acontece em meio a escassez de combustíveis, inflação de 23% e longas filas nos postos de abastecimento. A economia da Bolívia encolheu 2,4% no primeiro semestre, segundo dados oficiais. O Banco Mundial prevê dois anos de recessão antes de qualquer recuperação.

O presidente Luis Arce, que deixa o cargo em novembro, pediu que os dois candidatos respeitem o resultado das urnas. “Queremos exortar ambos a aceitar absolutamente o resultado, seja qual for”, disse. A apuração deve começar às 20h (horário local), com expectativa de forte disputa entre as duas candidaturas.