
O presidente Donald Trump abriu um processo administrativo exigindo que o Departamento de Justiça (DoJ) dos Estados Unidos pague cerca de US$ 230 milhões em indenização por investigações federais conduzidas contra ele. O caso, revelado pelo New York Times, será decidido por altos funcionários que já atuaram como seus advogados de defesa, o que levanta acusações de conflito ético entre especialistas em direito e ex-integrantes do governo.
Segundo o jornal, Trump apresentou duas queixas formais. A primeira, no fim de 2023, busca reparação por supostas violações de direitos durante as investigações sobre interferência russa nas eleições de 2016. A segunda, de 2024, acusa o FBI de violar sua privacidade ao revistar Mar-a-Lago, sua residência na Flórida, e o Departamento de Justiça de “acusação maliciosa” por denunciá-lo pelo mau uso de documentos confidenciais.
De acordo com as normas do DoJ, apenas o procurador-geral adjunto ou o chefe da divisão cível podem aprovar acordos acima de US$ 4 milhões. No entanto, ambos — Todd Blanche e Stanley Woodward Jr. — foram advogados de Trump e de seus assessores em investigações anteriores. Blanche foi o principal defensor do presidente em casos criminais e, durante sua sabatina de confirmação, admitiu manter relação profissional com ele.

Especialistas apontam que o caso cria um impasse ético inédito. “É bizarro e quase absurdo demais para acreditar”, afirmou Bennett Gershman, professor de ética da Universidade Pace. “Ter pessoas que servem ao presidente decidindo se ele deve ou não ganhar um processo contra o próprio governo é um conflito fundamental.”
O Departamento de Justiça afirmou, por meio de seu porta-voz, que todos os funcionários seguem orientações éticas internas e que decisões sobre conflitos de interesse são avaliadas caso a caso. A Casa Branca evitou comentar o assunto e encaminhou perguntas ao departamento.
As queixas de Trump ainda não resultaram em pagamento, mas, se forem aceitas, a indenização sairá dos cofres públicos. O presidente argumenta que foi alvo de “assédio político” nas investigações conduzidas durante o governo Biden e afirma que o processo busca reparar “décadas de perseguição injusta” contra ele.