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Ex-BBB Ana Paula Renault diz como Nikolas a intimidou em voo e provoca: “cadê o processo?”

Ana Paula Renault e Nikolas. Foto: Reprodução

Jornalista de entretenimento e celebridades no UOL, Ana Paula Renault (41) ficou famosa nacionalmente por sua participação no BBB16 em 2016. Famosa pela frase “olha ela” no reality show da Globo, Ana é reconhecida por uma personalidade forte e pelas brigas na televisão.

Em um voo para Minas Gerais, ela discutiu com o deputado bolsonarista Nikolas Ferreira (PSL) sobre a fala transfóbica no Dia Internacional da Mulher.

O DCMTV entrevistou Ana Paula em 14 de março. Ela deu detalhes sobre a intimidação dos seguranças de Nikolas dentro do avião, a ameaça de processo do deputado e o perigo do seu discurso.

Nikolas já havia exposto indevidamente uma trans

Num vídeo eu afirmei que o Nikolas [Ferreira] expôs uma menina de 14 anos. Há uma gravação que prova o que falei, o que significa que eu não sou mentirosa. O Ministério Público de Minas Gerais está investigando o Nikolas por causa desse vídeo, que ele expõe uma menina trans que estava no seu direito de usar um banheiro feminino sim.

É um mote da extrema direita mundial demonizar as mulheres trans para angariar as pessoas que possuem esse tipo de preconceito. É ai que temos que lidar com o preconceito. Em qual situação eu, mulher cis e branca, estou competindo com uma trans? Sendo que a mulher trans luta por sua sobrevivência. E nem isso ela tem.

Eles vêm com esse discurso de ‘atletas de alta performance’ e isso é uma bolha. E eu pergunto: Quantas pessoas trans estão trabalhando com você agora? Quantas pessoas trans têm trabalho digno? As mulheres trans não estão disputando espaço com a gente.

Elas só estão clamando por respeito às suas vidas. Mais de 90% das mulheres trans só conseguem trabalho na prostituição. E a idade média de vida delas é apenas 25 anos. Elas estão competindo em quê? Isso só mostra a crueldade e o crime de ódio que Nikolas cometeu no plenário da Câmara Federal.

Sem arrependimento

Ele me agrediu. Me chamou de mentirosa. Eu estava no meu direito de reclamar. Ele é uma figura pública. Ele é uma figura publicamente exposta. É isso que a gente tem que falar com a população que está aqui nos assistindo. Nós temos o direito de argui-lo e de questioná-lo sobre as questões públicas. 

O que eu fiz no voo não está errado. E você, que está me assistindo, não tema fazer a mesma coisa. Nikolas me ameaçou de processo. Mas, se ele fizer o mesmo contra vocês, vocês podem me procurar. Porque eu irei dar apoio psicológico e jurídico. Não temam. O nosso dever como cidadãos é justamente cobrar.

Tem um vídeo que o segurança dele gravou e que ele editou, o Nikolas joga o questionamento para o pessoal que estava dentro do avião. ‘Você votou em mim? Se votou, pode cobrar’. Não é verdade. Votando nele ou não, você paga o salário do deputado e tem dever sim de cobrar.

Se estamos popularizando o Nikolas ao falar dele? Quantos milhões de seguidores ele já tem? Quantos milhões de votos ele já tem? Se a gente não se expor e a gente não se organizar da forma que eles já se organizam, isso vai continuar acontecendo com o Nikolas. O que ele fez é um trabalho a extrema direita internacional.

Ou você acha que o Nikolas foi lá, lindo, querendo atacar as mulheres trans no Dia Internacional das Mulheres? Não. Isso tudo foi orquestrado. Não chame essa extrema direita de burra. 

Eles não são lá muito inteligentes, mas são sim organizados. Há muitos bots e robôs. Eles fizeram essa pauta se popularizar. A gente precisa se organizar, nos defender e sim expor esses crimes. Nikolas Ferreira foi um criminoso.

Na gravação, Nikolas não me deixa falar e fica gritando: ‘Qual é o artigo?’. Olha, Nikolas, eu sou jornalista e o Direito não é a minha área. Não sei leis de cor. Você que legisla, o mínimo era você saber qual era a lei que infringiu. Então eu vou falar pra ele que a lei 7716, de 1989, que é a do racismo, que incluiu a criminalização pelo STF da homofobia e da transfobia em 2019, mostra que o que ele fez é crime.

Ele usou o espaço público para cometer e ampliar um crime contra as mulheres trans e travestis. Temos que falar e temos que expôr.

Comparação entre Nikolas e Gabriel Monteiro

O Gabriel Monteiro não parou no Fantástico? Não foi depois do Fantástico que a opinião pública se levantou e disse que aquele cara que fala de moral e bons costumes estava abusando e estuprando. Não é isso que aconteceu? Então é isso que a gente tem que fazer. Tem que expô-los.

Por eu ser mulher, a gente já é naturalmente mais atacada. Já viraram para mim e falaram: ‘Cadê o seu remedinho?’. Me chamaram de desequilibrada. ‘É doida’. Se fosse um homem ali no meu lugar, você não veria esse tipo de comentário ou de comportamento. Sou desequilibrada por quê? Por que eu indaguei um servidor público?

Indaguei sobre as suas funções públicas. Ai a desequilibrada sou eu, sendo que quem estava gritando e ficou em pé foi o Nikolas. É importante eu explicar isso aqui porque há outros recortes de vídeo circulando por aí favorecendo ele, inclusive no Antagonista.

Esse vídeo foi gravado e editado pelo segurança dele. Naquele corte, o Nikolas Ferreira se levanta da cadeira com o dedo em riste perguntando para mim qual é o artigo na lei e que eu não poderia criticar se não votei nele. Tentou me intimidar e perguntou sobre o BBB [Big Brother Brasil].

Ataques por ser ex-BBB

O que o BBB tem a ver com o assunto? No reality, eu sei exatamente o que eu fiz. É uma página da minha vida que está escrita e é do passado. É por causa do BBB que eu estou aqui hoje. Foi por causa do BBB que isso ganhou repercussão nacional.

Como mulher, ter participado do BBB influi no que eu já fiz e deixei de fazer. Eles tentam me descredibilizar de todas as formas. Sendo que a questão não é por aí. 

Apoio que Nikolas teve no avião e ameaça de processo

Já que recebi alguma notoriedade de um programa de televisão, que eu use isso para o bem e o progresso da sociedade. 

Como mulher eu sinto na pele essa descredibilização. Por estar na televisão, falam que a gente é ‘piranha’ também. Eles sempre tentam nos atacar, mas nunca vão conseguir. Tô calejada e uso esse espaço para dizer que não recebi do Nikolas o processo.

Ele disse que o advogado dele está trabalhando incessantemente. O que aconteceu, meu filho? Queimou o processo? O processo queimou? Aqui é truco! É pau e é queda! Ele é de Minas [Gerais] e a gente fala assim. Nikolas joga para a claque dele, tenta me silenciar e quer assustar as pessoas.

Se ele me processa, as pessoas ficam com medo de arguí-lo na rua. De perguntar sobre suas atribuições. Não tenham medo! Coloquei truco e estou esperando a queda. Estou esperando seu processo, Nikolas. As provas a gente tem.

No avião, Nikolas tinha um segurança atrás de mim. Ele me cercou, tentando me interpelar. Um senhor saiu de trás e falou ‘o senhor vai ter que bater em um idoso e em uma mulher’. 

Não concordo em chamar Nikolas Ferreira de ‘moleque’. Ele é maior de idade. É deputado eleito. Moleque não tem que arcar com as suas responsabilidades. Ele tem que arcar com suas responsabilidades. Ele cometeu sim um crime e estamos com a lei.

Se ele não sabe, temos a lei que lemos aqui. A transfobia, por analogia com a lei de racismo, é crime. Opinião é uma coisa, crime é outra.

Não temam. O Nikolas achou que eu tivesse um respaldo. Achou que eu sou filha de chocadeira. Achou que eu não teria espaço, que eu ficaria descredibilizada com os ataques dos robôs dele. Achou que me colocaria medo.

Não vai conseguir. Agora ele conseguiu uma briga grande. Porque eu não tenho medo e vou dar voz a todas as pessoas invisibilizadas.

Não me assustou as pessoas no voo dando apoio para o Nikolas. A gente viu nas eleições que o Brasil está dividido. No entanto, quem entre a maioria dos brasileiros usa o avião como transporte comum? São as pessoas altamente privilegiadas. Uma passagem de avião é cara e acessível somente para quem está em uma situação melhor. Elas investem nesse luxo, coisa que não deveria ser assim.

Deveria ser algo democratizado ou a população deveria receber o suficiente para viajar de avião. É lógico que a maioria ali iria apoiar o Nikolas Ferreira. Pessoas privilegiadas têm medo de competir com essa geração que vem aí com tudo.

Por que eles não querem cotas? Porque os negros são marginalizados que, se tiverem o mínimo de condições contra nós brancos, eles vão se sobressair. Por vários aspectos, inclusive por lutarem sempre pela sua sobrevivência. 

A classe média teme o que está por vir. Quem ficou do lado do Nikolas tem medo das mulheres tomarem seus espaços. E agora estamos lutando pela sobrevivência das mulheres trans.

Quantos negros tinham no avião? Nós temos que brigar para que os aviões estejam cheio dos menos favorecidos. E eles morrem de medo disso. 

Eles usam a pauta conservadora para demonizar um lado e se colocarem como salvadores. Não são salvadores. Querem continuar com aquele patriarcado. Com a sociedade imóvel para serem os privilegiados de sempre.

Pai de Ana Paula Renault ensinou sobre “consciência de classe”

Ela. Foto: Reprodução/Twitter

Apesar de ser mulher privilegiada sim, sou branca, sou loira e filha de uma família que nunca tive que lutar por um alimento, meu pai sempre me deu muita consciência de classe.

Meu pai me fez entender que eu estou muito mais próximo de um morador de rua do que de um bilionário. Tenho que lutar por ele e pelas pessoas que gosto. Se eu parar de trabalhar, eu passo fome. É isso que falta às pessoas entenderem ao defender essas pautas conservadoras.

Conservadoras por quê? Se não fossem as mulheres lutando, eu não estaria aqui nessa entrevista. Tem apenas 90 anos que a mulher pode votar no Brasil. Até então, nós tínhamos que ser subservientes aos homens. Tínhamos que andar atrás de homens.

Se não fossem as mulheres lutando pelos direitos, o que seriam de nós hoje? É o mínimo que eu posso fazer.

Ameaça de morte

Dou minha cara a tapa e quero competir de forma igual com todos. Saio do meu posto de privilegiada porque quero construir uma nação mais justa. Até para o meu próprio bem, porque não quero ficar na minha mediocridade.

Recebi ameaças por mensagens, emails e eles falam que eu estou apagando os comentários. Não estou apagando até para produzir provas. Eu não minto, diferente do deputado que vocês gostam, não preciso fazer isso. Mas recebi emails com ameaças de morte sim. Não só um.

Diferentemente do Nikolas, eu não preciso de voto e eu nem posto em rede social. Faço o quê? Seis posts por ano? Não sou muito usuária de redes sociais. Uso muito o Twitter, para divulgar os programas que faço no UOL. Nem uso minhas redes sociais para ganhar dinheiro.

Vou querer biscoito por quê? Tô querendo lutar pelo direito das mulheres. 

Confira a entrevista na íntegra.

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Pedro Zambarda de Araujo

Escritor, jornalista e blogueiro. Autor dos projetos Drops de Jogos e Geração Gamer, que cobrem jogos digitais feitos no Brasil e globalmente. Teve passagem pelo site da revista Exame e pelo site TechTudo. E-mail: pedrozambarda@gmail.com

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