Ex-diarista “fantasma” recebe R$ 31 mil do gabinete de senador bolsonarista

Atualizado em 3 de dezembro de 2025 às 10:24
O senador bolsonarista Jorge Seif (PL-SC) . Foto: Reprodução

O senador bolsonarista Jorge Seif (PL-SC) paga R$ 31 mil mensais a uma ex-diarista que, segundo servidores, jamais foi vista trabalhando no gabinete, apesar de constar como assessora parlamentar desde 2023. A situação acendeu suspeitas de que Adna dos Anjos Cajueiro seria uma funcionária fantasma, especialmente porque ela mantém lojas próprias no Distrito Federal e não registra ponto no Senado.

Ao longo dos últimos meses, o Metrópoles esteve diversas vezes no gabinete de Seif, em Brasília, após receber uma denúncia sobre o caso. Em todas as visitas, funcionários afirmaram desconhecer Adna.

Em uma das ocasiões, a recepcionista chegou a sugerir que ela poderia atuar “em outro setor”. Mesmo assim, a servidora recebeu aumentos sucessivos desde que foi nomeada, passando de R$ 2.153,30, em outubro de 2023, para R$ 31.279,53 em setembro deste ano.

Contracheque de Adna Cajueiro
Contracheque de Adna dos Anjos Cajueiro. Foto: Reprodução

Natural de Barreiras (BA) e com ensino superior incompleto, Adna abriu o CNPJ do “Atacadão Goiano”, uma pequena loja de roupas em Taguatinga, em julho. Após ser procurada, pediu a baixa da empresa na última terça-feira (2/12).

Em agosto, quando ainda se apresentava como diarista, afirmou ter um emprego fixo na Asa Sul, mas não mencionou o vínculo com o Senado.

Expansão de negócios e dúvidas sobre frequência

Dois meses após receber o maior aumento no gabinete, Adna abriu uma segunda unidade da loja, em Ceilândia, inaugurada na Black Friday — dia em que ela própria trabalhava no comércio. Nos dois endereços, o atendimento é feito por irmãs da servidora, que confirmaram ajudar no negócio.

 Adna Cajueiro tem cargo comissionado no gabinete de Jorge Seif
Adna dos Anjos Cajueiro tem cargo comissionado no gabinete de Jorge Seif. Foto: Reprodução

O Senado negou, por duas vezes, acesso à folha de ponto ou ao relatório de frequência, alegando que Adna é “dispensada” do controle biométrico e que a checagem é feita pelo gabinete. A resposta foi fundamentada no Ato do Primeiro-Secretário nº 2/2017, embora o pedido tenha sido feito com base em outro artigo que obriga a apresentação de relatório mensal.

Reação de Seif e defesa da assessora

Após ser questionado, Seif afirmou “desconhecer, até o momento da reportagem, qualquer atividade profissional da servidora que fosse além dos trabalhos desempenhados no Senado” e disse que ela será exonerada caso não regularize sua situação. Segundo ele, Adna trabalha com o parlamentar “desde que o mesmo era ministro da Pesca”.

“Visto que o fato de a servidora ser empreendedora é incompatível com a legislação, o senador solicitou à servidora que tome as devidas providências legais em um prazo de até cinco dias, sob decisão já adiantada à própria de que, caso não resolvido, será realizada sua exoneração”, disse em nota.

A assessora, por sua vez, declarou que exerce “missões externas” e que não atua diretamente na loja, apesar das postagens promovendo os produtos. Alega ter aberto o CNPJ apenas para “auxiliar a família” e disse ter pedido a baixa após descobrir a incompatibilidade legal.

“Só registrei a empresa em meu nome por desconhecimento sobre a incompatibilidade. Sendo assim, ao tomar conhecimento, já tomei as providências necessárias para a baixa da empresa, a qual, volto a reforçar, não atuo diretamente, porque desempenho minhas atividades junto ao senador”, diz a nota.