
O senador bolsonarista Jorge Seif (PL-SC) paga R$ 31 mil mensais a uma ex-diarista que, segundo servidores, jamais foi vista trabalhando no gabinete, apesar de constar como assessora parlamentar desde 2023. A situação acendeu suspeitas de que Adna dos Anjos Cajueiro seria uma funcionária fantasma, especialmente porque ela mantém lojas próprias no Distrito Federal e não registra ponto no Senado.
Ao longo dos últimos meses, o Metrópoles esteve diversas vezes no gabinete de Seif, em Brasília, após receber uma denúncia sobre o caso. Em todas as visitas, funcionários afirmaram desconhecer Adna.
Em uma das ocasiões, a recepcionista chegou a sugerir que ela poderia atuar “em outro setor”. Mesmo assim, a servidora recebeu aumentos sucessivos desde que foi nomeada, passando de R$ 2.153,30, em outubro de 2023, para R$ 31.279,53 em setembro deste ano.

Natural de Barreiras (BA) e com ensino superior incompleto, Adna abriu o CNPJ do “Atacadão Goiano”, uma pequena loja de roupas em Taguatinga, em julho. Após ser procurada, pediu a baixa da empresa na última terça-feira (2/12).
Em agosto, quando ainda se apresentava como diarista, afirmou ter um emprego fixo na Asa Sul, mas não mencionou o vínculo com o Senado.
Expansão de negócios e dúvidas sobre frequência
Dois meses após receber o maior aumento no gabinete, Adna abriu uma segunda unidade da loja, em Ceilândia, inaugurada na Black Friday — dia em que ela própria trabalhava no comércio. Nos dois endereços, o atendimento é feito por irmãs da servidora, que confirmaram ajudar no negócio.

O Senado negou, por duas vezes, acesso à folha de ponto ou ao relatório de frequência, alegando que Adna é “dispensada” do controle biométrico e que a checagem é feita pelo gabinete. A resposta foi fundamentada no Ato do Primeiro-Secretário nº 2/2017, embora o pedido tenha sido feito com base em outro artigo que obriga a apresentação de relatório mensal.
Reação de Seif e defesa da assessora
Após ser questionado, Seif afirmou “desconhecer, até o momento da reportagem, qualquer atividade profissional da servidora que fosse além dos trabalhos desempenhados no Senado” e disse que ela será exonerada caso não regularize sua situação. Segundo ele, Adna trabalha com o parlamentar “desde que o mesmo era ministro da Pesca”.
“Visto que o fato de a servidora ser empreendedora é incompatível com a legislação, o senador solicitou à servidora que tome as devidas providências legais em um prazo de até cinco dias, sob decisão já adiantada à própria de que, caso não resolvido, será realizada sua exoneração”, disse em nota.
A assessora, por sua vez, declarou que exerce “missões externas” e que não atua diretamente na loja, apesar das postagens promovendo os produtos. Alega ter aberto o CNPJ apenas para “auxiliar a família” e disse ter pedido a baixa após descobrir a incompatibilidade legal.
“Só registrei a empresa em meu nome por desconhecimento sobre a incompatibilidade. Sendo assim, ao tomar conhecimento, já tomei as providências necessárias para a baixa da empresa, a qual, volto a reforçar, não atuo diretamente, porque desempenho minhas atividades junto ao senador”, diz a nota.