Ex-embaixador de Israel ofereceu “viagem” a Bolsonaro: “Vou cuidar de você. Kkk”

Atualizado em 28 de julho de 2025 às 10:49
O então embaixador de Israel no Brasil, Yossi Shelley, cumprimenta Jair Bolsonaro durante cerimônia de insígnias da Ordem de Rio Branco, no Itamaraty, em 2019. Foto: Pedro Ladeira

Mensagens de WhatsApp mostram que o ex-embaixador de Israel no Brasil, Yossi Shelley, se ofereceu para bancar uma viagem de Jair Bolsonaro (PL) a Israel em abril de 2023, poucos dias antes de o ex-presidente se tornar alvo de uma operação da Polícia Federal (PF) por suspeita de fraude em certificados de vacina. Com informações do Estadão.

A proposta incluía estadia para Bolsonaro e mais duas pessoas. “Vou cuidar de você 14 semanas em Israel, vou pagar o custo de sua presença, hotel e tal por 3 pessoas se vc quiser”, escreveu Shelley. Minutos depois, corrigiu: “14 dias kkk”.

Na troca de mensagens, Shelley, que foi embaixador entre 2017 e 2021, enviou vídeos de uma carne feita em impressora 3D. Bolsonaro respondeu em áudio: “Realmente é uma revolução né, proteína, carne em 3D. Parabéns aí pra vocês e vamo ver né qual o futuro dessa máquina aí. Um abraço e um abraço aí no nosso amigo Netanyahu”.

Shelley, então, convidou: “Como vc está? Vem nos visitar?”. Bolsonaro agradeceu e disse que conversaria com a esposa sobre a proposta. Michelle Bolsonaro, no entanto, não respondeu à mensagem.

Mensagens enviadas pelo ex-embaixador de Israel no Brasil, Yossi Shelley, a Jair Bolsonaro. Foto: Reprodução

O episódio reforça especulações sobre possíveis rotas de fuga buscadas por Bolsonaro, especialmente após ele ter se abrigado por dois dias, em fevereiro de 2024, na embaixada da Hungria, após ser indiciado por tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e organização criminosa.

O ex-capitão ficou 48 horas no local, acompanhado de seguranças e recebido pelo embaixador húngaro — o país é governado pelo extremista Viktor Orbán.

Problemas do embaixador de Israel com Lula e o PT

A relação próxima entre o bolsonarismo e setores do governo israelense se estende também ao atual embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine. O diplomata teve atritos com o governo Lula (PT), principalmente após o presidente criticar ações israelenses em Gaza.

Em uma nota maliciosa, o embaixador atacou o posicionamento do PT na guerra. O Partido dos Trabalhadores emitiu um comunicado afirmando que as ações de Israel em Gaza são genocidas.

“Qualquer pessoa que pense que o assassinato bárbaro, a violação e a decapitação de pessoas é uma posição política, ou que se trata apenas de uma luta política legítima, possui uma extrema falta de compreensão da atual situação”, dizia o texto.

O embaixador de Israel, Daniel Zonshine, e o ex-presidente Jair Bolsonaro. Foto: Reprodução

Zonshine também articulou uma “frente” com deputados bolsonaristas como Eduardo Bolsonaro, Nikolas Ferreira e Carla Zambelli, defendendo que o Congresso reconheça o Hamas como grupo terrorista. Reuniões ocorreram durante votações de moções de apoio a Israel na Câmara dos Deputados.

O antecessor de Zonshine, Yossi Shelley, beijava a mão de Bolsonaro e era ainda mais entregue à militância. Saiu correndo do país depois que uma mulher o denunciou por assédio.

Segundo o “Haaretz”, mais antigo jornal de Israel, Shelley tentou marcar um encontro com uma brasileira, passou seu telefone pessoal para dar uma informação consular e insinuou favores sexuais em troca de ajuda. O caso foi devidamente abafado.