“Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis”, escreveu Machado de Assis.
O banqueiro baiano Augusto Lima, marido da ex-ministra do governo Jair Bolsonaro, Flávia Péres, ex-Arruda, foi preso na Operação Compliance Zero, deflagrada pela Polícia Federal. Lima era sócio e CEO do Banco Master.
Lima idealizou o CredCesta, produto que se tornou um dos pilares da instituição. O CredCesta funciona como um cartão de crédito consignado direcionado a servidores públicos e também a funcionários de algumas empresas privadas.
A investigação apura fraudes no Banco Master que podem superar R$ 12 bilhões, volume suficiente para levar o Banco Central a decretar a liquidação extrajudicial de quase todo o conglomerado.
Segundo o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, parte do dinheiro ilícito já foi localizada. Em depoimento à CPI do Crime Organizado, ele informou que R$ 1,6 milhão em espécie foram apreendidos na residência de um dos investigados.
Entre os alvos da operação de terça (18) estava uma mansão no Park Way, área nobre de Brasília, onde vivem Flávia e Augusto Lima. A PF não informou se o valor apreendido estava no imóvel do casal.
Os banqueiros mantinham relações estreitas com figuras influentes de Brasília. Há expectativa de que o material apreendido inclua diálogos envolvendo o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, o imortal Michel Temer e o inominável Ciro Nogueira, entre outros.
A trajetória de Flávia é emblemática. Ex-personal trainer do então governador José Roberto Arruda, ela se tornou assessora especial do político e casou-se com ele. Em 2010, enfrentou a prisão do marido no escândalo conhecido como Mensalão do DEM.
Arruda acabou inelegível, mas conseguiu eleger Flávia deputada federal em 2018. Em 2021, ela assumiu a Secretaria de Governo no período Bolsonaro. No ano seguinte, perdeu a corrida para o Senado para Damares Alves.
Desde 2023, passou a usar o nome Flávia Péres, após assumir publicamente o relacionamento com Augusto Lima, a quem desposou em 2024. No Master, virou chefe de um tal Instituto Terra Firme, que “oferece cursos de capacitação profissional e autodefesa gratuitos para mulheres em situação de vulnerabilidade”.

O cerco ao Banco Master se intensificou ao longo do ano. A instituição chegou a negociar sua venda ao Banco de Brasília (BRB) por cerca de R$ 2 bilhões, operação considerada vantajosa para o banco privado, mas roubada para a estatal do DF.
O Banco Central vetou o negócio em março, alegando risco de herdar ativos problemáticos e comprometer a solidez do BRB. O episódio já causava estranhamento devido ao trânsito político dos envolvidos dentro do governo Ibaneis Rocha.
Naquele mesmo mês, Flávia recebeu a empresária Luiza Trajano, dona do Magazine Luiza, para um evento do Terra Firme. Em sua apresentação, emocionou o público ao contar histórias de mulheres que passaram pelo programa e saíram empoderadas, prontas para enfrentar o mercado de trabalho e as adversidades diárias.
“Muitas chegam até nós sem esperança, sem confiança em si mesmas. Nosso trabalho vai além da formação profissional. Nós ensinamos que essas mulheres podem ser donas de seus destinos, que podem lutar por suas oportunidades e pela própria segurança”, afirmou, para os aplausos gerais.

