
A recente filiação de Ciro Gomes ao PSDB, oficializada na quarta-feira (22), já gerou forte turbulência dentro do partido. O ex-ministro Eduardo Jorge Pereira, que ocupou a Secretaria-Geral da Presidência no governo Fernando Henrique Cardoso (FHC), afirmou que protocolará uma impugnação à entrada de Ciro na legenda. Segundo o jornalista Guilherme Amado, no Platobr, ele pede que o diretório do PSDB no Ceará analise o caso e barre a filiação do ex-governador.
Em documento enviado aos dirigentes tucanos, Eduardo Jorge afirma que a volta de Ciro fere o estatuto partidário em três pontos: “conduta pessoal indecorosa”, hostilidade pública ao PSDB e a suas lideranças históricas, e “incompatibilidade com os princípios e o programa da legenda”.
O ex-ministro cita que o ex-candidato à presidência manteve ao longo dos anos um histórico de ataques ao partido e a figuras como o próprio FHC e José Serra.
“Trata-se de fato inadmissível para qualquer tucano que tenha respeito pela história desse partido e da atuação nefasta do Ciro com relação a nossos líderes históricos”, escreveu Eduardo Jorge em mensagem a correligionários. Ele também solicita que o PSDB abra um processo disciplinar interno para avaliar suas alegações antes da homologação definitiva da filiação.
A disputa entre ambos é antiga. Em 2000, Ciro chamou Eduardo Jorge de “corrupto” durante um embate político, o que levou o ex-ministro a processá-lo por danos morais. Nove anos depois, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal condenou Ciro a pagar uma indenização de R$ 30 mil.

Filiação de Ciro
Apesar da resistência interna, Ciro Gomes foi recebido com festa por aliados durante o evento de filiação, realizado no hotel Mareiro, em Fortaleza. O ato contou com a presença de dirigentes tucanos e políticos de direita, incluindo o deputado federal André Fernandes (PL) e o ex-deputado Capitão Wagner (União Brasil).
A presença de ambos simboliza uma tentativa de aproximação entre Ciro e o campo bolsonarista no Ceará, com o objetivo de construir uma frente unificada contra o governador Elmano de Freitas (PT) nas eleições de 2026.
No discurso, Ciro evitou confirmar se será candidato ao governo do Ceará ou à Presidência da República, mas fez questão de reafirmar seu vínculo com o estado. “Morro pelo Brasil, mas mato pelo Ceará”, disse, em tom provocativo.
O ex-governador também ironizou as críticas de quem o acusa de se aproximar de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). “Aqui não tem ladrão, e lá?”, questionou, em referência a alianças do PT com figuras de outros partidos.
Fernandes defendeu a união da oposição em torno do novo tucano. “Ciro representa uma liderança que pode consolidar um projeto alternativo ao PT no Ceará. A oposição precisa estar unida para vencer em 2026”, afirmou o deputado. Ciro respondeu que eventuais desavenças entre os grupos seriam resolvidas “de forma fraternal”.
Durante seu discurso, Ciro voltou a atacar o governo federal e a gestão petista no Ceará. Criticou o aumento da informalidade no mercado de trabalho, o “clientelismo político” e o que chamou de “roubalheira generalizada” nas emendas parlamentares.
“O governo libera montantes de emendas para sustentar um sistema corrupto e ineficiente. Foi essa política que levou à crise do INSS e à queda de Carlos Lupi do Ministério da Previdência”, afirmou.